quinta-feira, 25 de junho de 2009

Completamente perdoado - O que pode me impedir de pecar? - 1 por Roberto Lima


Na festa de aniversário do Cláu, meu amigo e irmão, encontrei o irmão dele, o Dani.

Conheço o Dani há uns 15 anos mais ou menos. Conversamos e ele contou sua história.

Saiu de casa aos 13 anos de idade, do interior do estado e foi morar em São Paulo capital. Morava com duas tias e mais uma amiga. Todo o custo da casa era dividido em 4 partes, sendo que a parte dele ficava em 150,00. Ele arranjou um bico que lhe dava 135,00 por mês e o seu irmão, o Cláu, inteirava o resto.

Na volta de uma festa na casa de outros amigos, um amigo do Dani disse: Vamos embora de carro.

Você está louco? Não tenho dinheiro pra nada, quanto mais para pegar um taxi, disse o Dani.

Não... eu dou um jeito. E foi tirando uma lixa da meia, abriu a porta de um carro e entrou nele.

O Danilo ficou horrorizado, mas foi junto com ele. Chegando próximo de casa, o amigo dele vendeu o carro por 500,00 e deu-lhe metade do dinheiro.

Numa "puxada de carro" deu o dobro do que ganhava num mês... Foi onde começou a roubar carros e se drogar. Foram mais 13 anos de roubo, drogas e passagens na polícia.

Quando ele estava sendo retirado pelo irmão pela primeira vez da cadeia, ele correu e deu um soco na cara do Cláu.

O irmão sempre o socorreu, a mãe nunca o mandou embora, e ele sempre foi o herói da irmãzinha, que não o tinha como bandido.

Há mais ou menos 5 anos atrás ele ficou sabendo que a sua parceira estava grávida e que deveria o filho ser dele. Resolveu parar com tudo,roubo, drogas, cigarro, pois pensava: Como poderei dizer ao meu filho que não pode fazer se eu mesmo faço?

No oitavo mês de gravidez ficou sabendo que não era o pai. Todo mundo ficou com medo que o Dani voltasse para as drogas, mas ele decidiu continuar limpo, arrumou um emprego e assumiu a paternidade da criança.

Hoje, 5 anos depois ele ainda está limpo, trabalhando e é pai de duas crianças.

O que mais me chamou a atenção foram os motivos pelos quais ele não quer voltar mais para as drogas.

1) Ele voltou a jogar futebol e não tem mais problema de correr. Ele se sente bem, com saúde para fazer algo que gosta muito.

2) O amor da mãe, do irmão e da irmã. Ele disse que deu tanta dor de cabeça e recebeu tanto amor, que não gostaria mais entristecer as pessoas que o ama.

3) Todos os três deixaram de ficar em cima dele. Deixaram de se sobrecarregar com os problemas que o Dani trazia e foram buscar viver as suas vidas. Ele se sentiu sozinho e entendeu que não podia ficar sem o amor deles.

Ele disse que todo aquele tempo foi uma lição pra ele que o fez mudar, mas ressaltei que achei que não era isso. Tudo o que ele viveu, e tudo o que falaram pra ele, e tudo o que ele sabia de certo e errado, nada mudou sua vida. Ele poderia ainda ter passsado vários anos no fundo do poço. Certamente não existe aprendizado que tire alguém das drogas.

Acompanho o trabalho realizado no Desafio Jovem de Botucatu onde presto serviço voluntário de consultoria, e o Rivaldo, gerente executivo da entidade me falou da sua grande frustração no tratamento de homens viciados.

A taxa de recuperação dos drogadictos é abaixo de 20% nesta entidade.

Ele disse sobre os internados que depois de 9 meses saem conscientizados e informados de tudo na vida, e voltam às drogas em menos de um mês.

Voltando ao Dani, disse pra ele: Dani, acho que você não aprendeu, acho que o que te aconteceu foi uma nuvem de graça que envolveu a sua vida e você mudou. Ninguém muda porque aprendeu algo, porque sabe, porque alguém lhe ensinou. Precisa haver algo mais!

Com o Dani foi assim, o amor mudou a sua vida, mesmo que tenha demorado 13 anos para que isso acontecesse.

Hoje ele pode voltar para aquela velha vida, talvez até lhe dê vontade muitas vezes de voltar, e se ele quiser fazê-lo, ele é de maior e a responsabilidade é somente dele, de mais ninguém. Mas agora ele não quer, ele foi tocado pelo amor.

Talvez um dia ele volte, não sei, tomara que não, mas eu acredito que nada invalida o que lhe aconteceu, e duvido que menos num retorcesso tenha sido apagada a lembrança e ele tenha renegado o amor dos irmãos.

Pode acontecer, pode sim, mas porque ele (nós) é mau, doente e toma decisões equivocadas e tem que assumir as responsabilidades de seus atos. E ele ficará muito culpado, se isso acontecer, pois pensará na tristeza que aqueles que o amam terão. Mas, repito, isso não invalida o que aconteceu em sua vida e não joga fora esses cinco anos de "limpeza", como podemos julgar.

Aliás, se isso acontece em nossa família, ou em qualquer igreja, esse cara é mais do que massacrado. Todos vão dizer que, se ele se batizou ou aceitou Jesus, ou estava indo na igreja, ou tenhsa tido alguma experiência espiritual foi tudo uma mentira.

Mentira é dizer que nós (eu) não estamos em constante mudança fazendo escolhas certas e erradas que mudam a nossa vida e mudam as nossas crenças. O que hoje é, amanhã não é mais porque amadureci, porque vivenciei outra coisa, ou por qualquer outra coisa.

Mentira é dizer que o instante presente não tem valor, que só terá se depois de um bom tempo passado continuarmos bons, senão não terá valido nada.

Os AAAs, NAs, Desafios Jovens têm muito a nos ensinar e um deles é que, por hoje eu estou limpo! Ou seja, aquilo que vivo hoje vou dar valor, porque se mudar para o errado amanhã, hoje foi bom, mesmo que amanhã não seja. E isso não só comigo mesmo, mas com todas as pessoas.

Por isso, NÃO JULGUEIS, é mais do que um mandamento restritivo, é um ato de amor, que não invalida o que cada um acha verdade de si mesmo.

Porque o verdadeiro amor lança fora todo o medo!
Porque o verdadeiro amor nos tira do reino das trevas e nos leva para o seu reino!
Porque o verdadeiro amor liberta o seu amado mesmo que o deixe livre para escolher outro!
Porque o verdadeiro amor lança fora todo medo, ele mesmo é desprovido de medo!

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