quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A questão da obediência por Ivo Fernandes


É sabido de muitos o valor da autoridade na educação dos filhos e até mesmo na constituição da sociedade. Toda autoridade exige implicitamente obediência, porém essa obediência sem a capacidade de avaliar a autoridade é bem pior do que a desobediência.

Quando se é criança obedecer se configura numa situação de vida e morte, e está relacionado ao caráter mágico dos sentimentos infantis, pois se acredita que a obediência gera segurança. Além disso, nossa imagem estará sendo construída a partir dessa relação, que em sua base é uma relação de recompensa.



Esse sentimento de segurança e recompensa por meio da obediência nos acompanhará por toda a vida, sendo deslocado para outros objetos depois dos pais. É esse sentimento se deslocando que faz a massa humana necessitar tanto de uma autoridade que possa ser admirada, perante a qual nos curvemos, por quem sejamos dirigidos, e talvez, até maltratados, como já apontava Freud em seu escrito “Moisés e o monoteísmo”. Quanto mais fraca for o eu mas necessidade dessa autoridade o ser será.

A religião e a política parecem saber bem usar essa fragilidade do eu. No entanto, Jesus estimulou os discípulos a viverem como uma sociedade de irmãos, onde o culto da personalidade não tenha vez, onde liderança seja serviço e não poder. O próprio termo obediência será restrito a relação do homem com Deus, sendo, inclusive a razão para a desobediência por vezes das normas políticas e, ou religiosas. (Mc 1,27; 2.18-28; 3,2-6; 4,41; 7,2-3; At 4,20).

Na comunidade cristã ninguém deve ocupar o lugar do Pai. Uma comunidade onde haja alguém que se configura como o pai e mestre para o crente implica numa comunidade que atenta contra a igualdade radical a que somos todos chamados.

A obediência, então, aos que presidem uma comunidade deve-se em razão do serviço prestado em favor dos homens, se não for assim, tal obediência se converte numa importante fonte de alienação humana, de infantilismo psíquico e, num atentado ao Evangelho.

A questão da obediência - 2.

Não conseguimos escapar das relações de obediência. Elas nos definem enquanto sujeito e sociedade. Submetidos a figuras de autoridades associada ao deus-imaginário ou negando toda autoridade estaremos colhendo sempre frutos de nossa relação com a questão. Se por um lado a submissão as autoridades associadas ao deus-imaginário infantiliza o ser, a falta da relação de obediência debilita o eu, gerando angústias, neuroses e até psicoses.

A obediência relacionada ao deus-imaginário é fruto dos sentimentos infantis de onipotência e adquire um comportamento mágico diante da vida. Os sentimentos envolvidos são medo e amor, gerando dependência ou rebeldia.

Jesus ensina uma forma completamente diferente dessa relação de obediência. Não nega a relação necessária da obediência, mas cancela toda hierarquia, esvazia todo espaço de autoridade. Anuncia uma sociedade igualitária de irmãos, onde o culto a personalidade não existe, e em vez de autoridades, existem funções, onde a obediência é disposição para servir de maneira livre e voluntária. A submissão enfim é substituída por uma decisão livre e voluntária para o serviço, sempre analisando as fontes de onde procedem as orientações e pedidos. Só assim as relações de obediência geram saúde para a alma.

Fonte: Blog do Ivo Fernandes.

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