terça-feira, 17 de novembro de 2009

A DISCIPLINA: CONFISSÃO E PERDÃO por Henri J.M. Nouwen


Que disciplina é necessária para que o futuro líder vença a tentação de heroísmo individual? Eu gostaria de propor a disciplina da Confissão e do Perdão.
Assim como os futuros líderes devem buscar o sobrenatural, profundamente embevecidos na oração, eles também devem estar sempre dispostos a confessar a sua fragilidade e a pedir perdão daquele a quem ministram.

Eu não fico nem um pouco surpreso que tantos ministros e líderes sofram de profunda solidão emocional, que freqüentemente sintam uma grande necessidade de afeição e intimidade, e que algumas vezes passem por sentimentos profundos de culpa e vergonha diante de seu próprio povo.

Freqüentemente parecem estar dizendo: “E se o meu povo soubesse como eu me sinto realmente, se soubesse como penso e sonho, por onde minha mente anda quando estou sentado sozinho no meu escritório?” São precisamente os homens e mulheres mais dedicados para a liderança espiritual que são também os mais vulneráveis à carnalidade mais intensa.

A razão disto é que não sabem como viver a verdade da Encarnação. Separam-na da sua própria comunidade física, tentando dominar as suas necessidades ignorando-as ou satisfazendo-as em lugares distantes e anônimos e, então experimentam uma divisão crescente entre seu próprio mundo interior particular e as boas novas que estão anunciando.

Quando a espiritualidade se torna espiritualização, a vida no corpo se torna carnal. Quando os ministros e líderes vivem seus ministérios principalmente na esfera mental, e consideram o Evangelho como um conjunto de idéias valiosas para serem anunciadas, o corpo rapidamente vinga-se, clamando fortemente por afeição e intimidade.

É exatamente pelas disciplinas da confissão e do perdão que se pode evitar a espiritualização e a carnalidade, e pode-se viver a verdadeira encarnação. Através da confissão, os poderes das trevas são arrancados da sua isolação carnal e trazidos para a luz e manifestos à comunidade. Através do perdão, os poderes das trevas são desarmados e dissipados, e uma nova integração entre o corpo e o espírito se torna possível.

Inúmeros cristãos têm descoberto o mais profundo significado da Encarnação, não em suas igrejas, mas nos Doze Passos dos Alcoólatras Anônimos, e experimentaram a presença curadora de Deus numa comunidade formada por pessoas que têm coragem de buscar a cura através da confissão mútua.
Isto não significa que ministros e líderes devam explicitamente confessar os seus próprios pecados ou falhas no púlpito ou em suas ministrações diárias. Isto seria doentio e imprudente, e não seria de maneira alguma o caminho para se tornar um servo-líder.

O que estamos dizendo é que ministros e líderes também são chamados para serem membros completos de suas comunidades, devem prestar contas a elas, e necessitam o seu carinho e apoio. São chamados para ministrar com todo o seu ser, inclusive com suas próprias feridas.

Eu, pessoalmente fui muito afortuna do em ter encontrado esse tipo de lugar na L´Arche, com um grupo de amigos que dão atenção às minhas próprias dores freqüentemente escondidas e me mantêm fiel à minha vocação com suas críticas gentis e seu apoio amoroso. Quem dera que todos os lideres pudessem ter para si um lugar seguro como esse!

Retirado do livro: O Perfil do Líder Cristão do Século XXI.

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