segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A solução de Deus por Harold Walker - parte 3


Chegamos agora à pergunta central deste artigo. Se o derramamento do Espírito é a solução de Deus para o levantamento de um povo perfeito em amor, por que os derramamentos do Espírito Santo não produziram isto até hoje? Ao invés de levantar uma igreja cheia de amor, vivendo em união e cumprindo a lei pela graça, vemos cada vez mais divisões, culto às personalidades e egocentrismo. O que está errado? Será que a solução de Deus também não funciona? Estaria a Nova Aliança falhando da mesma forma que a Velha? 
Se analisarmos a história da igreja e a situação mundial atual seremos tentados a dar uma resposta afirmativa às perguntas acima. De fato, muitos hoje quando vêem a igreja pregando uma coisa e vivendo outra não conseguem crer em Jesus. E o próprio Jesus em João 17.21 declara que é a nossa perfeita união em amor com ele e uns com os outros que vai provar ao mundo que ele veio do Pai, ou seja, que a solução de Deus funciona. Se algum salmista ou profeta moderno fosse fazer um resumo da história da igreja, o resultado seria bem semelhante àqueles capítulos do Velho Testamento que resumem a triste história de Israel. Relatórios de avivamentos maravilhosos seriam registrados mas logo depois apareceria o tom menor da apostasia ¾ o domínio do homem sobre aquilo que Deus derramou e o abandono do amor, fervor e santidade encontrados no avivamento.


Estas considerações legam à nossa geração um grande desafio: Somos chamados para ser a demonstração da verdade da palavra de Deus. Nossas vidas vão provar que a solução de Deus funciona. Para isto precisamos em primeiro lugar resolver este aparente paradoxo: Em toda a Bíblia o derramamento do Espírito é apresentado como a chave, a solução final, e no entanto em nosso século os derramamentos do Espírito não estão produzindo este resultado. De fato, do ponto de vista teórico, se o Espírito do Deus santo, todo-poderoso, cheio de amor e misericórdia, habita em nós, certamente não deveríamos ter problema algum em ultrapassar as exigências da lei e formar uma sociedade perfeita, cheia de harmonia e amor. Por que isto não acontece na prática quando recebemos o batismo no Espírito?

Para responder todas estas inquietações e indagações voltemos ao relato de Atos 2 quando o Espírito foi derramado pela primeira vez.

Observe o alvo da exortação de Pedro no versículo 38. "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado... e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe..." O alvo de arrependimento e batismo nas águas não é ser salvo do inferno ou tornar-se membro de alguma igreja ¾ é receber a promessa do Pai, o dom do Espírito Santo. Nos versículos seguintes vemos o que aconteceu com os que aceitaram esta palavra. Perderam todo interesse em seus próprios bens materiais e passaram a ter tudo em comum (vv.44,45). Qual foi a chave que transformou os assassinos de Jesus (v.36) em uma comunidade de amor? O dom do Espírito Santo.

Por que Deus nunca conseguiu uma morada permanente no meio do seu povo no Velho Testamento? Porque não tinham forças para cumprir a lei. O que é o resumo da lei? Amor (Mt 22.36-40; Rm 13.8-10). Qual foi a solução de Deus para este fracasso? Derramar o seu Espírito, o Espírito de amor, sobre toda a carne (Rm 5.5). Quando o Espírito foi derramado, o amor de Deus foi derramado nos corações dos homens que voluntariamente se despojaram de todo excesso material para o bem-estar de outros.

O Espírito Batiza no Corpo!

Mas há um outro fator sem o qual este processo não chegaria ao resultado certo. Sublinhe todas as referências à igreja nos versículos 40 a 47 e ficará impressionado. Note: "Salvai-vos desta geração perversa" (v.40). Não diz: "Salvai-vos do inferno" mas "Salvai-vos do mundo!" E como sair do mundo? Juntando-se com os "chamados para fora do mundo", a "eclésia" ou igreja. "Agregaram-se" (v.41). Mas onde se agregaram? Na igreja. 

De fato formaram a igreja. Não foram batizados para em seguida andarem pelo mundo como indivíduos avulsos. Após o batismo foram "agregados" num corpo, numa comunidade. "Perseveraram" (v.42). Em quê? Em quatro atividades comuns: doutrina dos apóstolos, comunhão, partir do pão e orações. "Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum" (v.43). Crer não era um assunto individual ou particular. Se você cria, ajuntava-se com outros que criam e ainda tudo que tinha ou possuía passava a pertencer aos outros. "Perseverando unânimes todos os dias no templo" (v.46). "E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos" (v.47). O fato de serem acrescentados implica num corpo, numa comunidade ao qual eram acrescentados.

Podemos concluir, então, que o efeito mais imediato e revolucionário causado pelo Espírito logo após ser derramado foi o surgimento da igreja. E a igreja nada mais é do que o corpo visível e material que manifesta a vontade, natureza e obras do Espírito invisível. Este corpo foi formado espontaneamente por causa do amor que foi derramado pelo Espírito nos corações daqueles que antes assassinaram Jesus.

É interessante notar que em Atos 1.8 Jesus não falou nada sobre a igreja mas ressaltou que o batismo no Espírito faria com que os discípulos fossem suas testemunhas até os confins da terra. Mas o primeiro resultado do derramamento do Espírito no Pentecoste não foi espalhar os discípulos para pregar a palavra ¾ foi a formação do corpo. Portanto, podemos concluir que o meio do Espírito nos transformar em testemunhas de Jesus é a igreja. Somente através da prática e expressão do "outrocentrismo" (o amor divino derramado em nossos corações pelo Espírito) no contexto de igreja, é que podemos ser testemunhas autênticas. 

Mais tarde com a perseguição, os cristãos de Jerusalém foram espalhados por toda parte e onde quer que pregassem, surgia a igreja. Ao ouvirem a pregação do evangelho e serem batizadas nas águas as pessoas recebiam o Espírito. Ao receberem o Espírito não restava outra coisa a fazer: espontaneamente formavam o corpo, uma manifestação viva de Jesus naquela localidade. De acordo com as próprias palavras de Jesus: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (Jo 13.35).

Portanto, se o derramamento do Espírito não produz o amor de Deus em nós e se este amor não é expressado na igreja, algo está fundamentalmente errado. O mundo espiritual é um mistério para nós mas sabemos que há muitos outros espíritos. Só podemos ter certeza que é o Espírito Santo que está operando e não um outro espírito através de conferirmos os resultados de sua operação com este testemunho em Atos. Não é suficiente termos poderosos avivamentos do Espírito. Temos também que dar liberdade para o Espírito mudar nossas estruturas de igreja e nossas vidas materiais em todo sentido para que ele possa se expressar ao mundo. 

Caso isto não aconteça, qualquer mover que começa genuinamente do Espírito pode rapidamente degenerar num movimento controlado pelo homem e influenciado por outros espíritos. Somente o corpo vivo de Cristo, a comunidade de amor descrita em Atos 2, pode autenticar a operação do Espírito e provar que é realmente ele que está agindo. A solução de Deus funciona. Começou a funcionar em Atos, e de acordo com os escritos de Paulo em Efésios e outras epístolas temos certeza que é plano de Deus que esta solução funcione hoje em escala mundial e numa permanência nunca vista até hoje. De fato, Deus vai fazer uma coisa nova!

João Batista veio para batizar na água. Jesus veio para batizar no Espírito. O Espírito veio para batizar no corpo (1 Co 12.12,13; Ef 4.4). Há um só Espírito e um só corpo. É somente através do meu corpo que você pode conhecer meu espírito. É somente através do corpo de Cristo que podemos conhecer o Espírito Santo. O Espírito Santo só pode ser a solução de Deus para o mundo se lhe for permitido formar um corpo para se manifestar ao mundo.

Em Atos 3.19-21, Pedro está imbuído de um forte espírito profético e dá uma das mais claras descrições da Bíblia sobre a história da igreja incluindo a própria segunda vinda de Cristo. Ele fala sobre avivamentos, "tempos de refrigério", que aconteceriam durante toda a caminhada e sobre reforma, "tempos de restauração", que viriam logo antes da volta de Jesus. 

Estamos vivendo hoje numa época histórica e decisiva: olhando para trás podemos ver o cumprimento desta profecia de Pedro sobre os tempos de refrigério e olhando para frente podemos perceber os indícios dos tempos de restauração que prepararão a cena para a volta de Jesus. Jesus não pode voltar sem que antes a sua obra na primeira vinda encontre seu pleno cumprimento, ou seja, sem que a solução de Deus seja manifestada ao mundo, às potestades e ao próprio Satanás. Deus vai manifestar pela igreja sua multiforme sabedoria aos principados e potestades (Ef 3.9-11) e é através da união de Jesus com sua noiva gloriosa que todas as coisas serão sujeitas aos seus pés, ou seja, o reino de Deus virá (Ef 1.22,23).

Como poderíamos, então, resumir a solução de Deus para a formação deste povo aperfeiçoado em amor? A solução é a igreja, o corpo de Cristo, a casa de Deus, que é a habitação ou templo do Espírito Santo. Note bem. Se pararmos o processo de Deus em qualquer ponto, a solução de Deus não funcionará. Quem lia os profetas mas não aceitava o batismo de João estava perdido porque João era o cumprimento das profecias sobre Elias. Quem aceitava o batismo de João mas rejeitava Jesus estava perdido porque o alvo principal do ministério e mensagem de João era apontar para Jesus, aquele que batizaria no Espírito Santo e em fogo. Quem concordasse que Jesus era Filho de Deus e o Messias mas não recebesse o Espírito Santo, teria perdido tudo (sem o Espírito, Pedro negou Jesus três vezes). 

E agora chegamos ao âmago do assunto: Quem recebe o batismo no Espírito mas não permite que o Espírito o batize no corpo perde todo o plano de Deus e em muitos aspectos está na mesma situação dos que viviam debaixo da Velha Aliança. Continuará egoísta, transgressor da lei, e não manifestará o amor de Deus ao mundo, nem se preparará para a vinda de Jesus.

O Espírito Santo não vem para nos transformar em robôs que automaticamente cumpram as regras da lei de Deus. Os demônios é que tomam posse das pessoas e as manipulam. O Espírito Santo vem para nos constranger pelo amor, para nos atrair com sua atração irresistível para sermos cooperadores com ele no plano de remir toda a criação para Deus através de um constante doar de si mesmo (2 Co 5.14-21). Somos chamados para ser governados pela "lei do Espírito da vida em Cristo Jesus" (Rm 8.2), pela "lei da liberdade" (Tg 1.25; 2 Co 3.17).

Portanto, o derramamento do Espírito Santo não produz o corpo automaticamente como podemos constatar com tristeza se conferirmos os resultados do movimento pentecostal e do movimento carismático. É possível receber o Espírito e não ser batizado por ele no corpo. Por outro lado, assim como seria impossível receber o Espírito sem crer em Jesus, porque ele é o batizador no Espírito, também é impossível ser batizado no corpo sem o Espírito, porque ele é o batizador no corpo. Ou seja, seria impossível o corpo de Cristo ser formado nestes dias sem os poderosos avivamentos que o Senhor já enviou neste século e que ainda enviará ¾ mas estes avivamentos em si não são suficientes para que isto aconteça. Assim como o trem precisa de trilhos onde possa se locomover, o Espírito Santo em nós precisa de reforma, um caminho bem delineado pela palavra restaurada, para que ele possa nos moldar e integrar num corpo bem consolidado e ajustado. Ele não quer vir para ficar preso dentro de nosso ser e sem liberdade para ditar as regras do jogo por causa das imposições das estruturas externas, (tradições, denominações, liturgias, sistema capitalista, materialista) e do domínio de nossa própria alma com seus enganos e egocentrismo.

No dia de Pentecoste, bastou o derramamento do Espírito para que a solução de Deus funcionasse. Por que? Porque havia apóstolos que conviveram com Jesus, a própria palavra encarnada (I Jo 1.1-3), e que fundamentavam a igreja na sua doutrina (At 2.42). Nestes últimos dias também, devemos estar atentos para a restauração desta doutrina dos apóstolos (reforma) que estabelecerá os trilhos certos para o Espírito Santo nos livrar de todas as estruturas externas e internas que nos aprisionam e nos integrar num corpo vivo e funcional onde os dons interajam para liberar os frutos de uma vida "outrocêntrica", livre do materialismo e pronto para manifestar o amor de Deus ao mundo através das obras que ele preparou antes da fundação do mundo para que andássemos nelas (Ef 2.10). 

Por Harold Walker - www.revistaimpacto.com.br

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