quinta-feira, 9 de abril de 2009

O anjo em Betesda


Deus não apenas perdoa e esquece nossos atos vergonhosos, mas transforma até mesmo a escuridão em luz. Todas as coisas cooperam, juntamente, para o bem daqueles que amam a Deus, "até mesmo", acrescentou Santo Agostinho, "nossos pecados".

A peça, de um único ato, baseada em João 5:1-4, The angel that troubled the waters, de Thornton Wilder, dramatiza o poder de cura do tanque de Betesda sempre que um anjo agitava-lhe as águas. Um médico vem periodicamente ao tanque, esperando ser o primeiro da fila e ansiando ser curado de sua melancolia. O anjo finalmente aparece, mas impede o médico quando está prestes a entrar na água. O anjo manda o médico se afastar, pois esse momento não é para ele. O médico implora por ajuda numa voz entrecortada, mas o anjo insiste que a cura não está destinada a ele.

O diálogo continua, e então chega a palavra profética do anjo: "Sem suas feridas, onde estaria seu poder? E sua melancolia que faz sua voz baixa estremecer dentro do coração de homens e mulheres. Nem mesmo os próprios anjos conseguem convencer os filhos miseráveis e desajeitados na terra como consegue um ser humano quebrado pelas rodas do viver. A serviço do Amor, apenas soldados feridos podem se alistar. Médico, afaste-se".

Depois disso, o primeiro homem que entra no tanque é curado, regozija-se com sua boa sorte e, virando-se para o médico, diz: "Por favor, venha comigo. Estamos apenas a uma hora de casa. Meu filho está perdido em pensamentos obscuros. Eu não o entendo, e só você conseguiu melhorar-lhe o humor. Somente uma hora... Há também minha filha: desde que o filho dela morreu, fica sentada na sombra. Não nos ouvirá, mas ouvirá você".


Os cristãos que permanecem no esconderijo continuam vivendo a mentira. Negamos a realidade de nosso pecado. Numa tentativa fútil de apagar o passado, privamos a comunidade do dom de curar que temos. Se encobrirmos as feridas por conta do medo e da vergonha, nossas trevas interiores não poderão ser iluminadas nem se tornar luz para os outros. Apegamo-nos aos sentimentos ruins e remexemos no próprio passado, quando o que devíamos fazer é deixá-lo desaparecer.

Retirado do livro:
O Impostor que vive em mim.
Brennam Manning

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