segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Gruta e o Sonho por Lou Mello



Creio ser o sucesso do livro A Cabana bastante previsível e não tenha ocorrido por acaso. Quem não gostaria de chegar na Gruta e passar um fim de semana inteiro falando com a Trindade toda? Especialmente se o interesse dela fosse você e seus problemas, apenas. Não acredito nessa possibilidade, no meu caso. Gostaria, mas não consigo imaginar um Deus, por mais bondoso que seja, se dar a esse trabalho por um picareta subdesenvolvido e feio feito eu.

Talvez você goste de saber a respeito de um sonho meio megalomaníaco que acalento há muitos anos. Provavelmente ele morrerá comigo sem nunca ter se tornado realidade, se não for uma certeza absoluta.

Passei muitas horas dessa vida bandida imaginando um lugar, provavelmente junto ao mar, onde as pessoas pudessem passar algum tempo, como um fim de semana, e ali reorganizassem suas vidas, recebessem muito carinho, atenção e fossem paparicadas até. Todo mundo vestindo aquelas togas brancas ridículas que nos obrigam a usar no batismo, recebendo chuvas de rosas após o jantar e muito, muito papo com Deus. Nada de pregações e discussões em pequenos grupos e as idiotices psicológicas de sempre. Para ouvir a Deus é preciso silêncio, muita música clássica composta em êxtase espiritual e a brisa do mar. No máximo, um monitor ao lado para orientar e ouvir suas lamurias. Orações, muito arrependimento e sorrisos. Geralmente me via nesse sonho fazendo um monte de palhaçadas, (stand up ) para fazer os caras morrerem de rir. Isso faz um bem danado. Fora isso, muita comida caseira, suco natural e até um vinhozinho à noite para ajudar a quebrar a inibição e combater os radicais livres. Na hora de ir embora, todo mundo chorando, muitos abraços e beijos.

Sou patético ou não? Aqui, sem lenço e sem documento e pensando em fazer bem a um bando de gente que nunca vi e jamais verei. Mas isso é a Gruta. Davi, aquele amigão de Saul, não planejou nada. Entrou na gruta para não virar mulherzinha dos soldados de seu grande amigo e sogro. Mas como tinha nascido virado para a lua, atrás dele entraram aqueles quatrocentos vagabundos endividados e se tornaram seus seguidores, prontos a morrer por ele, sem nada pedir em troca. Não é o nosso caso. Aqui ganhamos muito, mas o que tem de gente querendo nos tirar até o que não temos, não é brincadeira. Afinal somos uns párias. Claro que falo por mim.

Nós não faremos sucesso e muito menos seremos um exército capaz de derrotar sequer uma mosca, quanto mais essa gente prepotente e egoísta que nos fez assim. Mas ninguém poderá nos impedir de sonhar com uma Gruta verdadeira.


Fonte: A Gruta do Lou

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