sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Igreja nas Casas - Uma alternativa? parte 1


Na teologia, a disciplina do estudo da igreja se chama eclesiologia. Os teólogos falam sobre a igreja de duas formas; eles expressam dois conceitos da igreja: a igreja universal e a igreja local. O primeiro conceito da igreja, a igreja universal, significa que, às vezes, o Novo Testamento se refere à igreja que é formada por todos que crêem em Jesus para a salvação (em todos os lugares e em todos os tempos). O segundo conceito da igreja, a igreja local, significa que, às vezes, o Novo Testamento se refere à igreja que é formada por todos que crêem em Jesus para a salvação e se reúnem num mesmo lugar e num mesmo tempo. É verdade que a Bíblia se refere à igreja nos dois conceitos. Todavia, eu estou cada vez mais convencido de que o Novo Testamento nos apresenta um conceito da igreja um pouco diferente.

Não há dúvida de que o Novo Testamento se refere à igreja no sentido da igreja universal. Muitos textos bíblicos se referem a todos os crentes como sendo a igreja. Afinal, as portas do Hades não vencerão a igreja universal (Mateus 16.18). Ninguém pode duvidar de que o conceito da igreja universal é sã doutrina.

Eu estive pensando sobre o conceito da igreja local. Com freqüência, pensamos que todos os crentes se reunindo num prédio exclusivo, algumas vezes por semana, é ao que o Novo Testamento se refere como a igreja local. Eu duvido que seja justo diminuir o ensinamento do Novo Testamento a só essa idéia.

No livro de Atos dos Apóstolos encontramos, pela primeira vez, a “igreja” em Jerusalém. Muitas pessoas imediatamente pensam nessa igreja no sentido tradicional, como a igreja que existe hoje em dia em muitas partes do mundo. Freqüentemente pensam que todos os crentes em Jerusalém se reuniam juntos para louvar a Deus e ouvir a pregação da Palavra de Deus. Todavia, isso não é como o livro de Atos descreve a igreja em Jerusalém.

A igreja em Jerusalém existia de duas formas. Primeiro, os crentes se reuniam nas suas casas diariamente. Na minha opinião, “diariamente” descreve quais dias durante a semana os crentes se reuniam e não a freqüência com que os crentes individuais se
reuniam. Por exemplo, havia milhares de crentes em Jerusalém e todos os dias alguns
deles se reuniam em casas (provavelmente à noite). Eu não quero dizer que todos os
crentes se reuniam em casas a cada noite da semana.

Eu acredito que o livro de Atos não quis dizer isso também. Nas casas, eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e as orações (Atos 2.42). Segundo, os crentes se reuniam no pátio do Templo diariamente. Eu acredito que o livro de Atos quis dizer que as reuniões diárias significam que alguns crentes se reuniam no Templo todos os dias e não que todos os crentes se reuniam lá a cada dia da semana. Eles se juntavam num grupo maior para louvar a Deus duma maneira apropriada ao povo Judeu. É bem estranho, ou engraçado, imaginar os apóstolos juntando todos os crentes no pátio do Templo a fim de terem um culto de hinos e canções e depois pregarem por 45 minutos da maneira que muitas igrejas tradicionais fazem nos dias de hoje.

Todas as indicações mostram que o ensino dos apóstolos era compartilhado nas casas e não no Templo.No segundo capítulo de Atos, constatamos o fato que a igreja em Jerusalém se reunia no Templo e também nas casas dos crentes em grupos pequenos.

Então, a igreja na cidade, todos os crentes, se reuniam como a igreja no Templo. Mas, todos os crentes na cidade também se reuniam como a igreja em grupos pequenos nas casas deles.

Os crentes que se reuniam numa casa eram considerados uma igreja. Eles não eram uma célula e não tinham uma igreja mãe. A idéia que um grupo de crentes se reunindo numa casa tendo uma igreja mãe não pode ser encontrada na Bíblia. O grupo pequeno na casa era uma igreja completa e verdadeira, independente de outras igrejas; sua existência não dependia das outras igrejas em casas ou do grupo inteiro que se reunia no Templo, mas, todas as igrejas nas casas participavam das reuniões no Templo.

Então, devemos aceitar as duas realidades da igreja local no Novo Testamento.

Primeiro, a igreja local existia como uma igreja numa cidade. Em Jerusalém, esse fato é óbvio. João, no livro Apocalipse, escreveu cartas breves às sete igrejas na Ásia localizadas em suas próprias cidades. Também, Paulo escrevia cartas à igreja em Corinto e em Tessalônica. Ele mandou uma carta à igreja em Colosse com instruções de que ela fosse lida na igreja em Laodicéia, e que a igreja em Colosse lesse a carta escrita à igreja em Laodicéia (Colossenses 4.16). O Novo Testamento se refere a todos os crentes numa cidade como a igreja – a igreja da cidade. Mas, em Colossenses 4.15 lemos, Saúdem os irmãos de Laodicéia, bem como Ninfa e a igreja que se reúne em sua casa.

A segunda realidade da igreja local no Novo Testamento é a igreja em casa. Em Jerusalém esse fato também é obvio. Os crentes se reuniam diariamente nas casas como uma igreja completa. Em vez de aceitar que a igreja nas casas era a prática da igreja primitiva, muitas pessoas de hoje pensam que a igreja primitiva era como as igrejas tradicionais desde A Reforma no século XVI ou como as igrejas tradicionais desde Constantino no século IV. Eles presumem que suas próprias igrejas são como a igreja primitiva. É uma pena eles terem negado o ensino do Novo Testamento. A igreja se reunia nas casas em Jerusalém (Atos 2.42; 12.12), em Éfeso (1 Coríntios 16.19), em Laodicéia (Colossenses 4.16), em Filipos (Atos 16.40), em Colossos (Filemom 2), e em Roma (Romanos 16.15, 23). F.F. Bruce, um grande pesquisador e professor do Novo Testamento que escreveu muitos comentários sobre livros do Novo Testamento, escreveu, “A presença de outras igrejas nas casas em Roma é provavelmente inferida pelas saudações de Romanos 16.3-16.”i A norma da igreja primitiva era se reunir em grupos pequenos nas casas dos crentes. Essa é a segunda realidade da igreja local no Novo Testamento.

De fato, a igreja existiu nessas duas realidades por quase três séculos antes de mudar. Wolfgang Simson explicou a mudança assim, “Somente depois da ‘virada constantiniana’ no século IV aconteceu uma transformação radical em relação à estrutura da igreja.

Nesse século introduziu-se e consolidou-se a congregação enquanto igreja de pastores, ao passo que a igreja no lar em breve foi empurrada contra as margens e por fim totalmente banida. Com isso a comunidade eclesial tornou-se espectadora em ‘igrejas’ permitidas pelo Estado. Ninguém podia organizar reuniões cristãs privativas sem o consentimento do Estado e da igreja ‘ortodoxa’ reconhecida pelo Estado.” Antes disso, a igreja se reunia principalmente nas casas dos crentes.

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