sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

DEUS MERCADO por Itamar Vian

Depois do mercado ter cooptado os diversos campos da atividade humana (política, comercio, arte, sexualidade, ecologia, biotecnologia), chegou também à religião. Deus foi posto no mercado. Tornou-se um bem de consumo, de compra e venda.

A RELIGIÃO tornou-se terapia, como meio de superar os riscos que a sociedade consumista e competitiva nos impõe. Deus voltou a servir de quebra-galhos,  tapa-buracos, pronto-socorro. A religião voltou a tornar-se ópio do povo, alienação, projeção do ser humano que não consegue realizar-se a si mesmo. Algumas igrejas passam a ser usadas, com objetivos de resultados: milagres, consolo, terapia. Daí o crescimento delas. Mas também seu descrédito. No deus-mercado se encontra a salvação para todos os problemas pessoais, familiares e econômicos.



URGE denunciá-las, como fez Jesus com a estrutura idolátrica de seu tempo, concentrada precisamente no templo, usado como meio de enriquecimento pessoal. Outro modo de enfrentar estas Igrejas mercantilistas é a partilha do dízimo, como contribuição para a comunidade, a qual poderia criar mecanismos de apoio a necessitados.

A REAÇÃO ao deus-mercado é a partilha, sobretudo, dos bens materiais, ainda que poucos. Portanto: viver a partilha evangélica. Continua valendo, hoje mas que nos primeiros séculos do cristianismo, a pergunta de São Barnabé: por que é tão fácil pôr em comum os bens espirituais, que são de valor eterno, e é tão difícil pôr em comum os bens materiais, que são passageiros?

É PRECISO denunciar a fundamentação religiosa desse deus-mercado, para que os fiéis saibam a quem estão se entregando, quem é que lhes está sugando a fé do espírito e o sangue do corpo. Há igrejas que são verdadeiras empresas, fundadas na teologia da prosperidade, justificadoras de uma religião excludente, servidoras do mercado.

URGE voltar ao valor da religião como pertença a uma comunidade. Religião como capacidade de opção por valores, compromisso com os outros e com a ética. Para isso, é preciso tirar a religião do braço do mercado. A solução não está em entrar no jogo do mercado. É preciso abandonar o jogo, sair do jogo do mercado, para pregar e testemunhar outro Deus, o Deus vivo, o Cristo crucificado e Ressuscitado!

por Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vainfs@ig.com.br

Fonte: Correio Feirense

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