REYNALDO TUROLLO JR.
DO ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA
EMILIO SANT'ANNA
DE SÃO PAULO
"Todo mundo morre", disse, sorrindo, Cabo Bruno --o matador mais famoso de São Paulo--, em 1985, ao ser recapturado no Pará. Questionado se tinha medo de ser morto, o homem que carregava mais de 50 assassinatos saiu-se com esta: "Pode acontecer, mas posso morrer de velhice".
DO ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA
EMILIO SANT'ANNA
DE SÃO PAULO
"Todo mundo morre", disse, sorrindo, Cabo Bruno --o matador mais famoso de São Paulo--, em 1985, ao ser recapturado no Pará. Questionado se tinha medo de ser morto, o homem que carregava mais de 50 assassinatos saiu-se com esta: "Pode acontecer, mas posso morrer de velhice".
Para delegado, nº de tiros contra cabo Bruno é 'assinatura de vingança'
Alckmin não descarta ação do crime organizado na morte de cabo
Alckmin não descarta ação do crime organizado na morte de cabo
Fazia então sete meses que Bruno havia fugido do Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo. Era a primeira de suas três fugas da cadeia. Cada uma mais "espetacular" do que a outra.
À época, o ex-policial já havia se transformado num personagem muito maior e mais complexo do que o cidadão Florisvaldo de Oliveira, seu verdadeiro nome.
A fama de "matador da zona sul" ele construiu entre 1981 e 1983, anos em que liderou um grupo de extermínio. A simples menção do nome do ex-policial na região era motivo de apreensão. Comerciantes lhe pagavam em troca de proteção.
A cada morte, o reconhecimento crescia. Onde o Estado "não chegava", Cabo Bruno era justiceiro. Para o resto da cidade, assassino.
Encontrado pela jornalista Mônica Teixeira, em 1985, admitiu em entrevista à Abril Vídeo todas as mortes. "Eu nunca poupei ninguém e hoje mataria todos novamente", afirmou na ocasião.
Recapturado, recebeu a primeira condenação: 43 anos. Outras se seguiram, e a pena do ex-policial chegou a 117 anos de prisão.
Na cadeia, Cabo Bruno se tornou evangélico. Em pouco tempo, virou pastor. Na Penitenciária de Tremembé, ajudou a construir uma capela e se casou com uma voluntária na evangelização dos presos.
Cabo Bruno após ser beneficiado por lei que concede liberdade a condenados a mais de 20 anos que tenham bom comportamento
Bruno também passou a pintar telas e chegou a fazer exposições de suas obras.
Em 2009, a Justiça permitiu que ele cumprisse o restante da pena em regime semiaberto. No início de agosto, foi liberado para passar o Dia dos Pais com a família.
Finalmente, após cumprir 27 anos de prisão, Cabo Bruno ganhou a liberdade, no dia 23 de agosto deste ano. Um indulto pleno extinguiu os anos restantes de sua pena.
Deixou a Penitenciária de Tremembé para viver com a mulher em Pindamonhangaba (a 156 km de São Paulo)
Quando o ex-policial deixou a cadeia, há 35 dias, seu advogado, Fábio Tondati Ferreira Jorge, afirmou que Cabo Bruno havia morrido e o que restava era o cidadão Florisvaldo de Oliveira.
Quando o ex-policial deixou a cadeia, há 35 dias, seu advogado, Fábio Tondati Ferreira Jorge, afirmou que Cabo Bruno havia morrido e o que restava era o cidadão Florisvaldo de Oliveira.
35 DIAS
Nos 35 dias que passou em liberdade, Cabo Bruno dedicou-se à mulher, a cantora gospel Dayse França, 45, e à igreja Refúgio em Cristo, em Taubaté (a 140 km de São Paulo), cidade vizinha a Pindamonhangaba.
Com o casal moravam uma filha e um filho de Dayse. Segundo parentes que não quiseram ter os nomes divulgados, os jovens consideravam Florisvaldo "um pai".
O primeiro mês em liberdade foi marcado por viagens para rever familiares em outras cidades. Natural de Catanduva (385 km de São Paulo), onde mora sua mãe, o ex-policial tinha irmãos, sobrinhos e uma filha --de um relacionamento anterior.
No primeiro dia fora da prisão, segundo uma amiga, a família foi "orar no monte" --retirou-se da cidade para um lugar reservado em agradecimento a Deus.
Todas as terças, quintas e domingos à noite, ele ia aos cultos --era pastor da igreja, que estava ajudando a estruturar. Estudou teologia, disse um pastor da Assembleia de Deus, quando estava na prisão. "Era muito inteligente."
Segundo familiares, o cidadão Florisvaldo, sem dívidas com a Justiça, passava praticamente todo o tempo com a família. "Ele ia ao mercado, ia à feira, queria ter um dia a dia normal", disse o genro.
"Era uma pessoa alegre, que queria o bem dos outros. Ele converteu muita gente, deixou muitas sementes", afirma a amiga evangélica Alaíde Guimarães, 51.
VELÓRIO
Ontem, em Pindamonhangaba cerca de 80 pessoas --a maioria familiares e membros da comunidade evangélica-- acompanharam ao velório do ex-PM. Não havia nenhum policial militar.
No velório, na Santa Casa da cidade, estavam a mulher, Dayse da Silva Oliveira, os três filhos dela, uma irmã do ex-policial militar e familiares vindos de São Paulo.
Dayse não quis dar entrevista. "Você foi o homem da minha vida", sussurrou ao lado do caixão, onde ficou a maior parte do tempo.
"Ele não recebia ameaças, telefonemas, nada. Morreu feliz com o que Deus tinha feito da
vida dele", afirmou a cunhada do ex-policial militar, Jane Trindade.
"Creio que foi vingança. Não tinha outro motivo", disse Alaíde Guimarães, 51, membro da Assembleia de Deus e amiga da família.
Um membro de uma igreja que conheceu Cabo Bruno ainda no presídio disse que os pastores o aconselhavam a se mudar para outra cidade, mas ele estava "cansado de fugir" e queria se estabilizar.
Não deu tempo. O cidadão Florisvaldo foi assassinado 35 dias após "a morte definitiva" de Cabo Bruno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário