Não se pode pensar no movimento que vai da hostilidade à hospitalidade sem uma constante conexão interna com o movimento que leva do isolamento à solidão. Isolados não podemos ser hospitaleiros, porque estamos impossibilitados de criar espaços livres.
É preciso que o anfitrião esteja capaz de oferecer o espaço onde o hóspede pode ouvir sua própria voz interior, mas para isso, ele mesmo precisa sentir-se em casa, em sua própria casa.
Sentir-se em casa faz parte do primeiro movimento, do isolamento à solidão, e para oferecer o espaço adequado ao hóspede é preciso que o anfitrião torne-se pobre. Quando deixamos de querer que nossas necessidades sejam completamente preenchidas, podemos oferecer aos outros esse espaço.
Só vemos o estranho como inimigo quando temos algo a defender, quando estamos agarrados a propriedade privada, seja nosso conhecimento, nossa fama, nosso dinheiro e bens. É preciso esvaziar a mente, abrir mão das riquezas, das ideias, dos conceitos e opiniões que nos colocam no lugar de completos. É preciso o reconhecimento que não sabemos. Por exemplo, somente quando sabemos de nossa pobreza em relação ao conhecimento de Deus é que somos abertos aos homens que possuem religiões diferentes da nossa.
Uma mente cheia de preconceitos, preocupações, invejas, medos não é capaz de gerar espaço para o estranho. Quando confundimos o nosso caminho com O Caminho destruímos a possibilidade do movimento espiritual.
O verdadeiro caminho da espiritualidade exige um árduo e doloroso processo de auto esvaziamento. Esse é o ensino presente na doutrina da encarnação, onde o próprio Deus faz o movimento da força para a fraqueza.
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