quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A dinâmica institucional e a dinâmica familiar Por Wayne Jacobsen



Sempre que estudamos Mateus 16, não resisto a fazer uma pergunta ao grupo de crentes. Lá encontramos a única instrução registrada que Jesus deixou para seus discípulos acerca da igreja: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Ele não pediu que eles fizessem isso nem deixou um esquema de uma organização. Ele simplesmente disse que ele mesmo edificaria a sua igreja e que ela seria forte o bastante para resistir a qualquer ataque das trevas. Então, só isso parece suficiente para avaliar como ele está fazendo. Se ele está empenhado neste projeto por quase 2000 anos, o que nós deveríamos estar demonstrando?

Eu pergunto isso para todo tipo de pessoas, mesmo nas convenções pastorais. Quando pergunto, posso sentir a tensão no ambiente. As pessoas ficam desconcertadas, com um sorriso meio sem graça. Eles sabem bem que não estão agindo corretamente, que a igreja está fragmentada por divisões, escândalos de imoralidade, vilipendiada por sua arrogância, exposta por suas prioridades equivocadas e longe de dar continuidade ao ministério de Jesus demonstrado nos evangelhos. Temos que concluir que ou Jesus não fez um bom trabalho, ou existe uma grande diferença entre o que ele chama igreja e o que nós chamamos.
Eu ficava desiludido com o que eu pensava ser a igreja de Deus. Vendo seu povo perdido em prioridades que estavam distantes da realidade e fazendo coisas que pareciam beneficiar mais a instituição do que estender o reino de Deus em nossas vidas ou no mundo, eu lamentava pela triste situação da igreja.

Recentemente eu passei a perceber que nossas instituições religiosas não são a igreja tal como Deus a vê. O que Deus chama “igreja” são todas as pessoas que reconhecem ao seu Filho como Senhor e líder. Elas estão espalhadas por todo o planeta, crescendo em conhecer a Deus cada vez mais e em demonstrar seu caráter neste mundo. Esta é a noiva que Deus está preparando para seu próprio Filho.

Eu vejo partes dela em todo o mundo. Longe de ser fraca, dividida e corrompida, a igreja de Jesus Cristo está crescendo a cada dia em beleza, força e poder. Como Jesus está fazendo para edificar sua igreja? Inacreditável! Seu povo existe em cada canto desta Terra; as pessoas encontram formas de se comunicar umas com as outras, glorificando a Deus, e nada consegue enfraquecê-las.

O que Deus chama igreja

Para ver isso, contudo, devemos olhar além das instituições e prédios que chamamos de igreja e encontrar pessoas que estão vivendo ligadas a Deus. Por favor, não entenda mal esta afirmação. Não estou falando que estas instituições são ruins. Só o estou encorajando a não confundi-las com igreja. Sim, muitas pessoas que as frequentam também são parte da igreja de Deus e crescem em conhecê-lo cada dia mais. Mas esta não é a questão.

Para ver o mover de Deus neste mundo, você precisa olhar além dos grupos que se autodenominam igreja e ver o quadro maior – todos aqueles que Deus está chamando para si mesmo em sua cidade e em toda a Terra. Se não for dessa forma, vamos confundir nosso sistema religioso com a igreja e perder a grande obra que Deus está fazendo em preparar ele mesmo a noiva.
Temos que ter o cuidado de chamar de igreja o que Deus chama de igreja, ou vamos terminar falando coisas que não têm nenhum sentido. Por exemplo, recentemente eu estive com um casal que, pouco tempo atrás, simplesmente deu um basta. Cansados dos tapinhas nas costas, entediados por serem espectadores nas manhãs de domingo, não suportando mais serem manipulados em fazer mais para Deus, esgotados com tantas responsabilidades, então eles me falaram que deixaram a igreja. “Como puderam fazer isso?”, eu perguntei. “A igreja não é algo que você possa deixar, ao menos que abandonem a Jesus”. Certamente que não foi isso que fizeram. Eles estavam querendo dizer que deixaram a instituição religiosa na esperança de encontrar uma expressão mais autêntica da vida de Cristo do que aquela do grupo em que eles estavam participando. Isto é algo muito diferente de abandonar a igreja.

Vamos ter cuidado com nossos termos. Quando organizações religiosas adotam o termo “igreja”, fica fácil para nós ficarmos confusos, pensando que isso é o que realmente elas são. Mas elas não são. Poderiam ser um ajuntamento de pessoas que fazem parte da igreja, mas em si mesmas elas não são igreja. A igreja de Jesus Cristo nunca poderia estar contida em nenhuma organização e, de fato, pela maneira como ele age, torna-se impossível enquadrar a igreja, mesmo na mais perfeita estrutura construída.

Não há espaço para andarilhos solitários

Sei que você provavelmente ouviu pessoas falando coisas, mostrando que caminham sozinhas, mas parecem que nunca prosperam na vida de Jesus. E por um longo tempo o povo de Deus age dessa maneira. Da mesma forma que uma instituição não pode ser igreja só por declarar isso, os que caminham sozinhos também não. Quem é a igreja neste mundo? Não são aqueles que vivem a mesma confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”? Você é parte da igreja quando vive debaixo do Cabeça, seguindo a ele como seu Senhor e líder. Você também não pode ser igreja por seguir alguém que faça isso – você mesmo deve fazê-lo. E seguir a ele não o conduzirá para a independência.

Mas como é isso? Deus é comunhão e em qualquer lugar onde é conhecido, uma verdadeira comunidade surgirá ao redor de seu povo. Pai, Filho e Espírito Santo têm permanecido em verdadeira comunhão por toda a eternidade, em pura alegria, compartilhando vida, amor e glória entre si mesmos. Você não consegue ser tocado por seu amor sem ser atraído em direção às pessoas que Deus colocou em seu caminho.
Quando os irmãos e irmãs estão ligados uns aos outros em verdadeira comunhão, logo descobrem que o que conhecem de Deus é sempre em parte, como através de uma fresta em uma janela embaçada. Mas na comunhão entre crentes que estão crescendo em conhecer a Deus cada vez mais, há plenitude de sabedoria e revelação. É por isso que Paulo disse em Efésios 1 que a igreja é “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”.
Imagine um grupo de pessoas experimentando esta incrível promessa! A razão por que nossa visão de Deus é geralmente limitada é que as instituições só são capazes de unir pessoas que vejam a mesma coisa e da mesma forma. A visão que têm através das lentes embaçadas nunca aumenta em clareza, e elas ficam cada vez mais convencidas de que o que estão vendo é mais perfeito do que qualquer outro grupo vê. O tipo de comunidade de Deus é aquela que surge entre pessoas que estão buscando uma vibrante amizade com o Deus vivo. E eu pensava que a vida de Deus fluía para as pessoas através da nossa então chamada estrutura da igreja. Mas não é dessa forma. Não existe vida na igreja – só existe vida em Jesus.

Aqueles que se reúnem para ficar alimentados ou são bombeados para atravessar mais uma semana perdem o verdadeiro sentido do que é uma igreja relacional. Nós só podemos encontrar vida em Jesus, e se de fato encontramos, nossa conexão com outros crentes nos permite compartilhar essa vida juntos. “Igreja” jamais pode ser um substituto de conhecer a Deus. Estar conformado a um sistema religioso em que nos encontramos e de que gostamos não quer dizer que o estamos seguindo. Ele está oferecendo a cada um de nós a alegria de conhecê-lo mais e mais a cada dia.
Dinâmica institucional
É por esse motivo que crescer em um relacionamento pessoal com Deus é o ponto mais importante no cristianismo relacional. Ele só pode começar se as pessoas estiverem dispostas a conhecerem e seguirem ao Deus vivo. À medida que nosso relacionamento com ele vai crescendo, vamos aprendendo a nos relacionar com outros crentes. A comunhão não funciona de outra maneira. Após vários anos tentando desenvolver comunhão, só causamos desilusão para aqueles que realmente querem conhecer melhor a Deus a cada dia.

Gene Edwards estava correto quando disse que o modelo de vida para a igreja é fundamentado no relacionamento de Jesus com seus discípulos. Ele nunca os ensinou a como fazer um culto ou construir um esquema organizacional. Ele nunca disse a eles que a vida da igreja consistia em fazer reuniões, conformar-se a algum grupo étnico ou arregimentar pessoas para o mais bem-intencionado programa. Em vez disso, ele os ensinou a se relacionarem com Deus como Pai e entre si como irmãos e irmãs. A linguagem usada com eles (e a mesma usada por Paulo em suas cartas) não era a linguagem das instituições, mas a linguagem de uma família. Pelo fato de o que chamamos “igreja” hoje em dia operar numa dinâmica institucional, muitos crentes atuais não têm a mínima ideia do que Deus planejou acerca de como seria a vida da igreja.

Os objetivos das instituições são os credos, programas e práticas com o objetivo de conformar as pessoas à “maneira que as coisas são feitas aqui”. Geralmente, um grupo de líderes é mais valorizado e recebe maior atenção, e as pessoas são encorajadas a submeterem-se inquestionavelmente aos ensinamentos e conselhos deles. A dinâmica institucional encoraja as pessoas a viverem um personagem e não as liberta para serem verdadeiras. Fofocas e um jogo de influências abundam à medida que as pessoas tentam alcançar uma posição, muitas vezes à custa de outros. A mesma coisa é vista no mundo coorporativo, e esta é a base de vida de uma instituição. E se você, por algum motivo, deixar uma instituição, será, na maioria das vezes, ignorado. Muitas pessoas que deixaram uma instituição religiosa comentaram que se sentiram como se deixassem de existir, mesmo para aquelas pessoas a quem consideravam amigos íntimos.

Dinâmica familiar

Viver como família, contudo, é desenvolver algo com métodos e alvos completamente diferentes. Numa família saudável, as pessoas não estão cooperando para alcançar um fim. Elas estão simplesmente aprendendo a relacionarem-se umas com as outras em amor. Numa família saudável, a diversidade não é apenas permitida, mas celebrada. As pessoas não se relacionam umas com as outras por meio de uma cadeia de autoridade, mas com suas capacidades e habilidades pessoais. Se o carro de alguém começa a fazer barulhos estranhos, ele não se sente obrigado a chamar um irmão mais velho para resolver isso. Ele já sabe quem tem maior habilidade com carros na família e busca a ajuda deste. Famílias saudáveis não pressionam as pessoas para adotarem a mesma forma, mas deixam pessoas crescerem juntas, cada uma no seu próprio passo. Elas têm a liberdade de discordar sem se dividirem em várias famílias. As pessoas participam juntas da caminhada de cada um, servindo com seus dons, discernimento espiritual e habilidades, sempre que necessário, ajudando umas às outras sem se importarem com o tipo de problema pelo qual estão passando.
Muitos cristãos encontraram um ânimo renovado no que as Escrituras chamam de “uns aos outros” e o Novo Testamento nos encoraja a praticar. Eles estão descobrindo que ensinar, aconselhar, servir, serem hospitaleiros, compartilhar confissões, orar pelos necessitados, admoestar ao egoísta e tudo o mais são coisas que o corpo de Cristo pode fazer uns com os outros, sem que precisemos contratar profissionais que fariam isso por nós.
Como estamos vivendo juntos em Jesus, ele compartilha seus dons por meio de todo o corpo, no qual cada um dá e recebe de Deus através dos outros. É por isso que alguns dizem que, nas manhãs de domingo, há uma maior expressão da “igreja” nos estacionamentos do que a que se permite acontecer durante os cultos matinais. Se você já vivenciou a espontaneidade verdadeira, a comunhão em um grupo de cristãos, não precisa me contar o quão rica é esta experiência. A alegria de caminhar juntos, sem fingimento algum, de ter pessoas que o suportam nas fraquezas, que o fortalecem com seus dons, é altamente recompensador. Sim, com certeza, muito disso pode acontecer entre os crentes que se reúnem no ambiente institucional, mas isso nem sempre acontece.
O importante é que você reconheça a dinâmica familiar quando a vê acontecer e a abrace com todo o coração. Por outro lado, ao reconhecer a triste realidade da dinâmica institucional, que não tem nada a ver com o reino de Deus, você deve se afastar sem culpa alguma. Da mesma maneira que Paulo encorajou os crentes a caminharem juntos, a fim de que se edificassem mutuamente, ele também os orientou a que tivessem liberdade de não andar em ambiente que fosse destrutivo para suas vidas. Se você sentir que deva se afastar de determinado grupo, não se condene nem deixe que o condenem. Você não está deixando a igreja com isso, mas talvez seja o próprio Deus que pode estar preparando-o para encontrar a igreja na forma mais autêntica com que você jamais sonhou.

Encontrando a vida do Corpo

Então, para onde devemos ir para encontrar a vida da igreja relacional? Para Jesus, é claro! Isso pode parecer muito simplista, mas para onde mais você poderia ir? Confie que Jesus irá providenciar a comunhão que ele quer que você tenha. Lembre-se, sua igreja é edificada com aqueles que estão aprendendo a confiar nele. Você pode descobrir a liberdade de viver a igreja relacional exatamente onde você está. Não se preocupe se as pessoas estão ou não compartilhando das suas mesmas perspectivas. Simplesmente busque oportunidades de compartilhar a vida com pessoas famintas de conhecer a Deus mais e mais. Podemos descobrir, contudo, que algumas estruturas institucionais destroem aqueles que têm fome de seguir a Deus livremente, e ele pode chamá-los para fora de lá. Muitas pessoas deixam uma instituição quebrada só para se afundarem numa outra ou para começarem uma nova, à sua maneira. Eu o aconselho a ir devagar e a não fazer nada até Deus falar com você claramente. Testemunhe para as pessoas com as quais Deus o está conectando. Não se apresse a começar nada. Aprenda a reconhecer o que Deus está fazendo em sua região para trazer conexões significativas entre cristãos que têm fome de conhecer a ele – sua integridade, sua graça, sua vida. Ele tem pessoas que caminharão com você e o animarão a crescer sem nenhum tipo de manipulação para conformá-lo às expectativas delas.
O que você experimenta em sua localidade pode ser muito diferente do que acontece em outros lugares. Pode acontecer numa reunião matinal de domingo, com os vizinhos da rua, em grupos caseiros ou com pessoas que Deus colocou em seu caminho. Quando começar a acontecer, você descobrirá que a vida da igreja jamais poderia se expressar em duas ou três reuniões semanais. Ela acontece todos os dias, à medida que vivemos nossa vida em Deus e a compartilhamos com os outros. Jesus tem várias maneiras de chamar os cristãos para compartilharem suas vidas juntos.
No próximo assunto, veremos o que a Bíblia quis dizer com “não deixando de congregar” e algumas maneiras que Deus usa para convidar pessoas a compartilharem suas vidas juntas. Sei que poderia ser desencorajador buscar a profundidade da vida do corpo, enquanto são poucos os que têm fome disso atualmente. Mas se Jesus não tirou de você a paixão por isso, ele vai dar um jeito de fazer acontecer. Porém, pode não vir exatamente da forma como você está esperando. Então, não ponha todas as energias numa única direção, pois você poderia perder outras portas que ele está abrindo. Conte a ele que está faminto por conhecer a autêntica vida do corpo do jeito que ele compartilhava com os discípulos. Peça para ele conectá-lo com pessoas apaixonadas por viver a dinâmica familiar. Então aproveite as conexões que ele lhe deu. Não tente forçar ou moldar nada nem sinta a necessidade de organizar um grupo para isso. Simplesmente aprenda o que é se relacionar com irmãos e irmãs, mesmo que sejam grupos de dois ou três, que permitem que Jesus seja o centro. Ame os outros da mesma forma que Deus o ama e verá a igreja de Jesus ser edificada ao seu redor e em todo o mundo. Isso o surpreenderá! Acima de tudo, ele está fazendo isso por 2000 anos e já deve estar maravilhosamente bom nesse trabalho.
Traduzido de www.lifestream.org por Ezequiel Netto.

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