segunda-feira, 7 de abril de 2014

Igreja “versus” instituição por Ariovaldo Ramos


Há muitas críticas sobre a dimensão institucional da igreja evangélica. Você ainda acredita na instituição igreja? Se sim, como salvá-la?

A igreja é criação de Jesus. Em Mateus 16.18, ele disse que edificaria a Igreja. Naquele tempo, Igreja significava um grupo de pessoas em torno de alguém, ou de ideias, ou de ambos. 




Jesus falava de um grupo de pessoas que acreditassem ser ele Deus, que viera em carne e osso para libertar a humanidade. Disse que trabalharia nessa Igreja, de tal maneira que esta atacaria as portas da morte, libertando seres humanos que, por ele, seriam ressuscitados no último dia.

Essas pessoas, membros da Igreja, seriam trazidas ao Filho pelo Pai, por meio de uma revelação sobre a natureza divina e libertadora do Filho. Portanto, gente que adoraria o Filho como Deus.

A Igreja é a consolidação desse grupo de Jesus, pelo Espírito Santo, por seu batismo e habitação, desde o Pentecostes.

O Espírito Santo disse que a Igreja é o Corpo do Senhor, por meio do qual Jesus exerce o seu governo sobre todas as coisas. Ele disse também que a Igreja é a casa de Deus e o santuário onde ele é adorado.

Nas palavras de Jesus, a Igreja assume um perfil relacional (onde dois ou três estiverem reunidos em nome de Jesus, ele estará entre eles) e sacerdotal (se dois concordarem na terra, será feito no céu).

Na ação do Espírito Santo, a Igreja assume um perfil operacional: todos os membros são cumulados de dons e de capacidades especiais para operar prodígios. Assim, há também membros dessa comunidade que são destacados pelo Espírito Santo para prestar serviço à Igreja, sem, com isso, ganhar posição hierárquica. Todos continuariam a se ver e a se tratar apenas como irmãos.

Na voz do Cristo, essa Igreja assume uma característica missional; ela tem de levar o conhecimento do Cristo e dos seus ensinos a todos os povos. Tem de batizar os que, a exemplo do que aconteceu com os primeiros, forem recebendo a mesma revelação sobre Jesus de Nazaré. 

Nessa missionalidade, a Igreja tem de manifestar a presença do reino de Deus, na história, por meio do serviço aos demais e de boas obras, que provoquem transformações nas circunstâncias e deem direção para a sociedade.

Na perspectiva dos apóstolos, a Igreja passa a precisar de estrutura mínima, que garanta as condições para que ela se organize em função de sua missão. Daí a necessidade de presbíteros, para que as pessoas, no exercício de seus dons, não percam o foco missiológico, transformando as capacidades que receberam em um fim em si mesmas.

Não pode acontecer, do mesmo modo, de a Igreja se permitir ser uma confraria fechada, um refúgio. Ela tem de se manter uma comunidade para a humanidade, sonhando com o dia em que toda a humanidade venha a ser Igreja. Por isso a necessidade de diáconos, que garantam a igualdade entre os irmãos e promovam o senso de comunidade pela partilha e pelo acolhimento. 

Como essa comunidade é um contingente geográfico, para além de ser uma comunidade virtual pelo Espírito Santo, ela tem de se reunir, e essas reuniões precisam manter-se relacionadas umas às outras.

Com o passar dos séculos, essa estrutura deixou de ser mínima e de manter a igualdade, passando a privilegiar a hierarquia e a reconhecer poucos como sacerdotes, embora o sacerdócio seja universal. A estrutura acabou por sequestrar a Igreja.

Nossa tarefa hoje é fazer com que a estrutura retorne aos moldes originais, que volte a ser o mínimo necessário para que a Igreja, a comunidade, seja o máximo possível.

• Ariovaldo Ramos é escritor e conferencista. É presidente da Visão Mundial no Brasil e um dos presbíteros da Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo, SP.

Nenhum comentário:

Postar um comentário