domingo, 20 de junho de 2010

No Sopro do Vento: a Imprevisibilidade da Vida em Cristo - parte 2

Confiança genuína 

Todas as vezes que penso ter decifrado os caminhos de Deus, ele me surpreende de novo – ziguezagueando onde eu teria andado em linha reta, dando força para suportar circunstâncias que eu teria mudado ou fazendo-se repentina e notavelmente ausente de planos e rotinas nos quais eu pensava contê-lo.
Houve uma época em que isso me frustrava. Agora, não. Estou finalmente confortável na realidade de que ele não faz nada do jeito que eu faria. Estou convencido de que ele faz bem todas as coisas, mesmo que não as faça para o meu conforto ou conveniência. E estou convencido de que segui-lo é a única maneira certa de se viver, circunstância por circunstância, tarefa por tarefa, obediência por obediência. E estou aprendendo a amar essa maneira de viver.

A busca de uma fórmula para produzir a justiça de Deus, gerar a vida de uma igreja do Novo Testamento ou aumentar minha confiança é futilidade total. Falhará vez após vez até que, um dia, eu reconheça que tais realidades só vêm por meio de cultivar uma amizade progressiva com o Senhor. Quanto mais o conheço e quanto mais vejo a mão dele em ação, mais livre me tornarei para confiar nele e viver em seu reino.

Estou convencido de que aquele vento é o Espírito dele, e que minha necessidade de nascer de novo não é uma experiência única, mas uma escolha diária de abandonar minhas expectativas de como as coisas devem ser, desconfiar de meus próprios desejos e agenda e sintonizar minha mente ao sopro do seu Espírito e às verdades de sua Palavra. À medida que eu viver o nascimento do Espírito hoje, serei carregado por esse vento com alegria e liberdade cada vez maiores. Verei as marcas de seus dedos nos lugares escabrosos da vida e serei capaz de cooperar com o propósito dele para mim.

Por outro lado, enquanto viver com base na minha própria ambição egoísta, meu desempenho religioso ou minha sabedoria natural, terei dificuldade com perguntas que não têm resposta, e meu comportamento ferirá os outros. Como estou cansado disso! E, embora ainda esteja bem distante de viver perfeitamente no vento do Espírito, não tenho desejo de viver de outra forma – vivendo um pouco mais hoje do que ontem e um pouco mais amanhã do que hoje. A única maneira de fazer isso é continuar vivendo profundamente nele, observando quando o vento do Espírito está soprando e deixando-me ser levado por ele, mesmo que algumas das pessoas mais significativas em minha vida não consigam compreender o que estou fazendo ou por quê. Jesus nos preveniu de que seria assim.

Seguindo a ele, não a uma coisa

Sempre que escolhermos seguir um modelo de espiritualidade, a fórmula de alguém para alcançar o sucesso ou uma agenda, por mais que sejamos bem-intencionados, acabaremos andando por nossa própria sabedoria limitada. O convite a esse reino é um convite para seguir uma pessoa. Jesus não nos oferece um caminho; ele é o Caminho. Ele não tem vida; ele é a Vida. Ele não apenas fala a verdade; ele é a Verdade em pessoa. Tudo o que faz parte de seu reino começa e termina nele, e só conseguimos experimentá-lo quando cultivamos uma amizade progressiva com ele.

Essa é geralmente a parte mais difícil para as pessoas enxergarem quando ficam desiludidas com vida na igreja da forma que muitos a conhecem hoje. Imediatamente começam a procurar outro jeito de vivenciar a igreja e caem de volta numa nova forma de desempenho religioso ao invés de aprenderem a simplesmente seguir Jesus.

Uma parte do que Jesus queria transmitir para Nicodemos era que ele parasse de tentar encaixotar a vida do Espírito, pois ela nunca poderá ser contida em coisa alguma. Você já tentou enfiar o vento numa caixa? Já tentou impedi-lo ou mudar sua direção? Totalmente inútil! Assim é tentar controlar a ação de Deus, encaixotando-a nas nossas formas preferidas ou tentando controlar os resultados que desejamos obter dele.

Ele é o vento. Ele sopra onde quer, e podemos segui-lo se quisermos. A pessoa que é nascida do Espírito perde seus esteios no mundo temporal onde os anseios por segurança, proteção e estabilidade exigem satisfação. Ao desligar-nos desse ancoradouro natural, tornamo-nos como o vento também, disponíveis a ele a cada momento para fazer o que ele quer de nós.

Obedecendo aos impulsos

A fé não flui de teologia, flui de relacionamento. Desde o princípio, ele quis mostrar-nos como abraçar sua revelação progressiva em nossa vida e ensinar-nos a segui-lo. Não conheço outra forma de descrevê-lo a não ser que devemos simplesmente atender àqueles impulsos que ele coloca em nossa mente. Pode ser que queira revelar algo sobre a pessoa dele, convidar-nos a passar tempo com ele, atrair-nos à Palavra ou nos guiar a servir ou encorajar outra pessoa. Aprender a reconhecer esses impulsos e a obedecê-los é o que nos fará distinguir entre nossos desejos e os desejos dele. Esses impulsos quase nunca começam com um chamado para ministérios espetaculares, mas com a instrução sobre como sair do interesse próprio por meio das muitas formas corriqueiras em que podemos servir a outros à nossa volta.

Para muita gente, isso pode soar como espiritualidade emotiva, baseada em sentimentos e sensações. Ouço tais objeções frequentemente de pessoas que se sentem ameaçadas por uma vida em Deus que não conseguirão controlar por disciplinas e doutrinas. No entanto, não poderiam ser mais equivocadas. Essa é uma dança em que cabeça e coração andam juntos e que nos leva para conhecer Deus e seus caminhos. O coração sem a cabeça pode conduzir-nos de forma bem-intencionada ao desastre, enquanto a cabeça sem o coração exalta a doutrina acima do amor e destrói muitos com sua arrogância.

Para crescer nessa vida, cultivo continuamente meu relacionamento com ele. Separo intencionalmente tempo para estar com ele ao mesmo tempo em que desenvolvo minha percepção de sua atuação durante todo o dia. Mantenho um diálogo constante com ele sobre tudo em minha vida e expresso meu desejo de seguir sua vontade em cada encruzilhada. Procuro imergir na narrativa das Escrituras para aprender como ele pensa e age. Procuro alimentar-me sempre com aquilo que Deus está mostrando a outras pessoas por meio de leitura, ouvindo palestras e pregações e dialogando com outros que estão na mesma jornada.

E como fazer para separar os impulsos de Deus dos meus próprios pensamentos? A maioria dos impulsos que recebo do Espírito são direções simples para amar e servir às pessoas à minha volta. Com esse tipo de impulso, não estou muito preocupado sobre a possibilidade de errar. Não há muitos resultados negativos quando se serve a outros. Porém, quando preciso de maior confiança para seguir uma direção de Deus e tomar um passo importante, procuro alinhar estes quatro elementos:

1. convicção intuitiva da direção de Deus que cresce com o passar do tempo;
2. confirmação na verdade e no exemplo das Escrituras que é assim que Deus age;
3. confirmação de outros irmãos quando converso sobre o assunto com eles;
4. a realidade das circunstâncias à medida que vão acontecendo.

Quando esses elementos estão em harmonia, tenho mais confiança de que estou realmente seguindo à voz de Deus. No entanto, você sabe o que pode acontecer? Às vezes, mesmo quando tudo está alinhado, posso ainda confundir a direção dele. É por isso que pessoas que nasceram do Espírito raramente usam expressões como: “Deus falou comigo para...”; geralmente preferem dizer que entenderam ou tiveram a impressão de que Deus as estava dirigindo dessa ou daquela forma. Já erraram suficientemente para não serem tão presunçosas, mesmo quando estão bem convictas de que ouviram corretamente sua voz.

Já falsifiquei várias vezes a assinatura de Deus, colocando-a na minha agenda, só para descobrir depois que era tudo minha própria autoria. Mesmo assim, ainda estou pronto para levantar-me no dia seguinte e continuar empenhando-me para segui-lo. E, embora esteja disposto a sofrer as consequências dos meus erros, também tenho aprendido que ele é capaz de arquitetar as coisas de tal forma que até meus erros contribuam para seus propósitos.

Alçando voo

Isso é o que significa ser nascido do Espírito. Não tem nada a ver com a oração de arrependimento do pecador ou com falar em línguas. Significa que alçamos voo num sopro de vento que vem do próprio Pai e procuramos aprender a confiar mais em suas palavras do que nas racionalizações e justificações humanas.

Significa que deixamos de lado as mentiras da vergonha e as exigências por desempenho que nos afastam de Deus e encontramos nossa segurança em seu afeto por nós, permitindo que isso nos transforme. Significa que finalmente reconhecemos como as ambições egoístas impedem seu propósito em nós e em outros à nossa volta e que estamos abandonando-as à medida que aumenta nossa confiança de que ele sabe melhor do que nós como agir e que ele faz bem todas as coisas.

Significa que não precisamos ter tudo sob controle para podermos dar o próximo passo que ele colocou em nosso coração e que não precisamos mais agir em função dos aplausos da multidão. Significa que finalmente estamos livres para abandonar nossa necessidade de achar que estamos no controle e que sabemos que seus planos são muito superiores.

Que tremenda liberdade poder reconhecer que nunca tive a capacidade ou a sabedoria para cumprir os propósitos de Deus na minha vida e que perder confiança na carne só me libera para viver em maior dependência dele e maior gratidão por suas ações! Que alegria poder acordar de manhã e enfrentar a aventura incerta da vida e não ficar angustiado sobre o que pode acontecer hoje porque ele está comigo!

Como o esforço humano poderia produzir isso? É somente a ação do seu Espírito respondendo ao nosso desejo de conhecê-lo. Minha oração por você é a mesma de Paulo em favor dos tessalonicenses:

“Ora, o Senhor conduza os vossos corações ao amor de Deus e à constância de Cristo” (2 Ts 3.5). Ou, na versão de The Message: “Que o Mestre tome-o pela mão e conduza-o pelo caminho do amor de Deus e da perseverança de Cristo”.  

Sobre o autor:

Wayne Jacobsen é escritor e palestrante. Seu tema preferido é a jornada para viveer de modo profundo e diário na presença e no amor de Deus. Dos livros dele, já foram publicados em português Por que você não quer mais ir à Igreja? e Deus me ama. Wayne vive em Newbury Park, na Califórnia, EUA, com sua esposa Sara. Eles têm dois filhos e duas netas.

por Wayne Jacobsen

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