terça-feira, 5 de janeiro de 2016

ESCÂNDALO DA COMUNHÃO por Brennan Manning


Em lugar algum do Novo Testamento a posição privilegiada dos fracassados, dos zes-ninguém e dos desclassificados à margem da sociedade é revelada de forma mais dramática do que no ministério de Jesus de compartilhar refeições com eles.

Hoje em dia é praticamente impossível avaliarmos o escândalo representado pela comunhão de Jesus à mesa com pecadores.

“No ano de 1925, se um abastado fazendeiro de Atlanta, Estados Unidos, estendesse um convite formal para que algum escravo negro colhedor de algodão comparecesse à sua mansão para um jantar de domingo, precedido por coquetéis e seguido por longas horas de conversa regada à conhaque, a aristocracia do estado da Geórgia ficaria profundamente chocada, o estado vizinho de Alabama ficaria furioso e a Ku Klux Klan exasperada. Há 60 ou 70 anos atrás no sul dos Estados Unidos, o sistema de castas era inviolável, a discriminação social e racial inflexível e a indiscrição tornava a perda de reputação inevitável”.

No judaísmo da Palestina do primeiro século o sistema de classes era colocado em vigor à risca. Era legalmente proibido misturar-se com pecadores à margem da lei: sentar-se à mesa com mendigos, cobradores de impostos (traidores da causa nacional, porque coletavam impostos do seu próprio povo para Roma, a fim de ganharem uma comissão) e prostitutas era tabu religioso, social e cultural.

Para o judeu, compartilhar a refeição equivalia a dizer: Venha para o meu mikdash me-at, o santuário em miniatura da mesa da minha sala de jantar, onde celebraremos a mais sagrada e bela experiência que a vida proporciona – a amizade. Foi isso que Zaqueu ouviu quando Jesus chamou-o a descer do sicômoro, e é por isso que as companhias com que Jesus compartilhava as suas refeições provocaram comentários hostis desde o primeiro momento do seu ministério.

Não escapou à atenção dos fariseus a intenção de Jesus de manter a amizade com a ralé. Ele não estava apenas violando a lei, estava destruindo a própria estrutura da sociedade judaica.

“Seria impossível subestimar o impacto que essas refeições devem ter tido sobre os pobres e os pecadores. Aceitando-os como amigos e como iguais Jesus havia removido a vergonha, a humilhação e a culpa deles. Ao demonstrar que eles importavam para ele como pessoas, ele concedeu a eles um senso de dignidade e libertou-os do seu antigo cativeiro. O contato físico que ele deve ter tido com eles à mesa (Jô 13:25) e que ele obviamente nunca sonharia em condenar (Lc 7:38,39) deve tê-los feito sentirem-se limpos e respeitáveis. Além disso, porque Jesus era visto como um homem de Deus e como profeta, eles teriam interpretado o seu gesto de amizade como a aprovação de Deus sobre eles. Agora, eram aceitáveis diante de Deus. Sua pecaminosidade, ignorância e impureza haviam sido deixadas de lado e não eram mais levadas em conta contra eles”.

Para Jesus, essa comunhão à mesa com aqueles que os devotos haviam descartado não era meramente expressão de uma tolerância liberal e de um sentimento humanitário. Era a expressão de sua missão e de sua mensagem: paz e reconciliação para todos, sem exceção, até mesmo para os fracassados morais.

Seja bem-vindo Senhor Jesus à nossa mesa! Nós, pecadores que somos, agradecemos pelo teu amor por nós.

Texto retirado do livro: O Evangelho Maltrapilho – págs. 58-62

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