segunda-feira, 4 de julho de 2016

Igreja versus empreendimento por Pedro Arruda


Com o rompimento da comunicação entre o Criador e o homem em consequência do pecado, Deus entrou com o plano de redenção por meio de Jesus, cujo objetivo nada mais era que a recuperação do plano original. Quando pensamos na missão de Jesus, precisamos lembrar que ele veio restaurar o homem à sua capacidade de relacionar-se com Deus, de ouvir sua voz e viver por ela.

A incompreensão da verdadeira missão da Igreja surge como resultado de não se entender a natureza e a metodologia da missão de Jesus. O problema é que geralmente partimos de uma perspectiva da Igreja atual para analisar a obra de Jesus.

Como a Igreja tem-se assemelhado cada vez mais a uma empresa, tentamos insistentemente achar algum modelo de empreendimento proposto por Jesus, ainda que escondido nas entrelinhas de sua história.

“Talvez, nosso problema na Igreja é que estejamos usando o modelo errado”, dizemos. “Talvez, tenhamos de procurar com mais profundidade...” Entretanto, mesmo que procurássemos até o fim da vida, jamais acharíamos tal modelo nos evangelhos pela simples razão de que Jesus não veio propor empreendimento algum para salvar o homem. A Igreja não é um empreendimento.

É certo que poucos usariam esse termo para definir a Igreja. Mesmo assim, nossa mentalidade foi moldada de tal maneira que não conseguimos visualizá-la de outra forma, nem agir como se não o fosse. E isso nos tem desviado do propósito principal de Deus.

Por que a Igreja não poderia ser uma versão “espiritual” de um empreendimento? Quais seriam as diferenças principais? A que mais se destaca é a maneira como os dirigentes encaram os recursos necessários para alcançar seus objetivos. De modo geral, podemos dizer que todo empreendimento precisa de três tipos de recursos: materiais, financeiros e humanos. Para a maioria dos empreendedores, os recursos humanos são pouco diferentes dos materiais e financeiros. São vistos como parte do seu patrimônio. Pode até soar como uma afirmação de valorização quando alguém declara: “Nossos recursos humanos são nosso principal patrimônio”. No entanto, é possível que apenas mascare uma visão interesseira de que as pessoas são importantes somente na medida em que contribuem para o sucesso do empreendedor.

Esse conceito é próprio de Satanás e vem desde os tempos primitivos, conforme se pode observar no exemplo do faraó do Egito em relação ao povo de Israel. Quando Moisés argumentou que Deus queria o povo livre para adorá-lo no deserto, o faraó não quis permitir a saída dos israelitas porque isso prejudicaria a sua produção. Deus via o povo como adoradores livres, enquanto Satanás os considerava escravos para a manutenção do sistema opressor (Ex 5.1-9).

Essa tensão entre a natureza maligna do sistema humano e a vocação de Deus ainda se faz presente nos dias de hoje. Não são poucos os casos em que o trabalho rouba a adoração das pessoas.

A reação do faraó de sobrecarregar os hebreus com mais trabalho, para ocupá-los mais e impedir que atentassem à liberdade que lhes fora oferecida, é uma estratégia que se repete até hoje.

Muitos cristãos vendem sua liberdade de adorar a Deus em troca da perspectiva de obter mais dinheiro em seu orçamento.

A não ser que tenha aberto os olhos para os valores do outro reino, o empreendedor em geral não se preocupa de fato com as necessidades pessoais de seus colaboradores, mas tão-somente os vê como recursos que fazem girar a engrenagem do sistema.

Retirado do livro AMIGOS do Mestre de Pedro Arruda.

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