quarta-feira, 6 de julho de 2016

O objetivo do discipulado era formar amigos por Pedro Arruda



O discipulado de Jesus Jesus não veio para implantar uma versão “benéfica” do mesmo sistema. Sua maneira de tratar as pessoas era totalmente diferente. Ele não as considerava como meros instrumentos para ajudá-lo a alcançar uma meta. Vejamos como ele trabalhou com seu grupo de colaboradores a partir do processo de seleção.

Em meio à multidão que era atraída por Jesus, por seus milagres e suas palavras, havia um grupo relativamente grande de seguidores (discípulos), talvez em torno de setenta. Dentre esses, Jesus escolheu doze para estar mais perto dele. Inicialmente, eram conhecidos como discípulos, mas posteriormente foram chamados apóstolos.

Como ocorreu essa escolha? Nenhum deles foi escolhido por ter o perfil adequado a alguma função de empreendimento. Não foi a capacidade de Mateus em lidar com números e finanças, a liderança empresarial ou as qualificações profissionais de Pedro, Tiago ou João como pescadores nem o radicalismo político de Simão, o Zelote, que os habilitaram ao discipulado. Pedro, Tiago, João, Mateus, Simão e os demais foram chamados por ser as pessoas que eram. Jesus não estava procurando pessoas qualificadas; ele só queria identificar aqueles que o Pai lhe indicara durante uma longa conversa entre os dois. Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos. (Lc 6.12,13).

Esses doze homens passariam por um período de treinamento, acompanhando Jesus em tudo o que ele fizesse. Eram discípulos, um termo bem conhecido na época. Todos tinham plena consciência do tipo de relação que estavam assumindo com Jesus. O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo [ou escravo], acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. (Mt 10.24,25)

Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque o sou. (Jo 13.13)

O discípulo tinha uma posição, em certo sentido, semelhante à de um escravo; obedecia a ordens. No caso dos discípulos de Jesus, essa relação de obediência tinha um objetivo: torná-los semelhantes ao seu Mestre e Senhor.

No final do período de treinamento, qual seria a prova de que haviam terminado satisfatoriamente? Que título receberiam na conclusão? O entendimento geral é de que, no fim do treinamento, os doze seriam promovidos a apóstolos.

O título apóstolo significa enviado e foi utilizado várias vezes durante o período de treinamento, especialmente nos momentos em que os discípulos saíram, de dois em dois, como enviados para cumprir uma missão específica de anunciar o reino de Deus, curar enfermos e expulsar demônios (Mt 10.1,2).

Sempre pensávamos que o apóstolo representasse o estágio mais elevado que um seguidor de Jesus poderia alcançar. O “plano de carreira” na vida cristã é conhecer a Bíblia, frequentar todas as reuniões e ser enviado para realizar uma missão. Depois de chegar a apóstolo, não há mais nada a ser alcançado. É ser vice-Deus, o ponto máximo da carreira! Afinal, como Paulo escreveu na carta aos coríntios (1 Co 12.28), Deus não estabeleceu na Igreja “primeiramente apóstolos”? Olhando com mais atenção, porém, vemos um grau acima do apóstolo que tem sido ignorado.

No final do treinamento, Jesus realmente promoveu seus discípulos e lhes deu um certificado de conclusão de curso, mas não era o título de apóstolo! 

Já não vos chamo servos [escravos ou discípulos], porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. (Jo 15.15)

Portanto, embora não ficasse muito evidente no início, o objetivo de Jesus, desde o dia em que chamou Pedro, André, João, Tiago, Mateus e os demais, era fazer deles seus amigos. 

Começou a andar com eles para todo lado, nas casas, na praia, no mar, nas cidades, acampando, dormindo, comendo e vivendo juntos. Ostensivamente, ele os ensinava a pregar, curar, expulsar demônios e outras funções do ministério, típicas da nossa atividade na igreja hoje. Porém, na realidade, Jesus tinha um objetivo mais elevado: “Vou fazer destes homens meus amigos”. 

O discipulado de Jesus não consistia em ensinar uma nova filosofia, criar uma nova escola doutrinária, nem mesmo uma ideologia política dentre as muitas correntes existentes entre os judeus naqueles dias.

Assim como um pai coloca o filho na faculdade de engenharia e não espera dele um diploma de médico, Jesus não esperava que seus discípulos se tornassem pregadores eloquentes, militares corajosos, administradores habilidosos ou empreendedores capazes – embora isso também pudesse acontecer. Ele os ensinou a amar. Esse foi o ponto alto de seu ensino, como ficou claramente demonstrado durante a última ceia quando lavou os pés de todos ( Jo 13). Jesus esperava que, ao final da jornada que fariam juntos, eles estivessem aptos a prosseguir com base no amor.

Jesus não chamou de amigos a multidão, nem o grupo todo de discípulos, nem mesmo todos os apóstolos. Somente onze homens receberam essa honra. Aos que estavam concluindo o curso, nos momentos finais, àqueles que perseveraram até o fim, ele chamou de amigos. Foi na última lição deles.

Nessa mesma ocasião, ele falou sobre o amor, sobre como desenvolveriam a amizade e como ela continuaria. Toda a amizade seria encharcada, baseada e norteada pelo amor. Amor e amizade são plenamente conjugados, vinculados e indissociavelmente interligados no ensino de Jesus.

É por isso também que, no final do treinamento, nenhum dos discípulos foi reprovado ou considerado inapto. 

”Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” ( Jo 13.1). 

Ninguém foi desqualificado por não estar alinhado com o objetivo do empreendimento ou por não ter desenvolvido certa habilidade. Não havia do que se desqualificar, porque eles mesmos eram o objetivo de Jesus.

Retirado do livro: Amigos do Mestre

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