segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A História da Oração 24/7 - parte 1


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O Tabernáculo de Davi

O rei Davi foi um homem de “uma só coisa” (Sl 27:4). Por volta de 1.000 a.C., de coração transbordante, Davi ordenou que a Arca da Aliança fosse trazida para sua nova capital, Jerusalém, sobre os ombros dos Levitas ao som de canções e instrumentos musicais. Lá, ele a colocou dentro de uma tenda e designou 288 cantores proféticos e 4.000 músicos para ministrarem diante do Senhor que fizessem petições, agradecessem e louvassem ao Senhor dia e noite (1 Cr 15:1 – 17:27). Não havia nada parecido em toda História de Israel até aquele momento, mas foi o plano de Deus para Israel.

A Ordem Davídica da Adoração

Embora o tabernáculo fosse substituído por um templo, a ordem Davídica de adoração foi adotada e reinstituída por sete líderes subsequentes durante a história de Israel e de Judá. Cada vez que esta ordem de adoração foi restabelecida, houve, em sequência, um período de rompimento espiritual, libertação e vitória militar.
  • Salomão instruiu que a adoração no templo deveria ser conforme a ordem Davídica (2 Cr 8:14-15).
  • Josafá derrotou Moabe e Amom colocando cantores na linha de frente do exército para cantar louvores conforme a ordem Davídica (2 Cr 20:20-22, 28)
  • Joás (2 Cr 23:1–24:27).
  • Ezequias purificou, consagrou o templo e restabeleceu a ordem Davídica da adoração (2 Cr 29:1–36; 30:21).
  • Josias reinstituiu a adoração Davídica (2 Cr 35:1–27).
  • Esdras e Neemias, ao retornar da Babilônia, restabeleceram a adoração Davídica (Ed 3:10; Ne 12:28–47).
Os historiadores especulam que nos dias de Jesus, na busca de encontrar comunhão com Deus, os Essênios do deserto da Judéia restabeleceram a adoração Davídica como parte de sua vida de oração e jejum.

Início da Tradição Monástica de Oração 24/7

Por mais de mil anos, monasticismo (a prática de fazer votos de pobreza, castidade e obediência a um superior espiritual) teve uma papel fundamental no desenvolvimento da teologia e da prática na Igreja. A partir do quarto e quinto século, monges e freiras eram aceitos como parte da sociedade. O monasticismo é o berço do nascimento de “lausperene”, a oração perpétua, na era da igreja. Vamos descrever algumas das figuras chaves desta tradição.
Alexander Akimetes e os “Sleepless Ones” (Os que não dormem)
Nascido na Ásia menor e educado em Constantinopla, Alexander se tornou um oficial no exército Romano. Desafiado pelas palavras de Jesus ao jovem rico de Mateus 19:21, Akimetes vendeu suas posses e retirou-se da vida de corte para o deserto. A tradição diz que ele pôs fogo num templo pagão depois de sete anos de solidão. Após ser detido e preso, Alexander converteu o administrador da prisão e sua família, e retornou imediatamente a habitar no deserto. Pouco depois, ele teve a infelicidade de misturar-se com um bando de assaltantes. Seu zelo evangelístico não poderia ser contido, e ele converteu estes homens em devotos seguidores de Jesus. Este grupo se tornou o núcleo do seu grupo de monges. Por volta de 400 dC, ele retornou a Constantinopla com 300 a 400 monges, onde ele estabeleceu a “lausperene” em cumprimento da exortação de Paulo de orar sem cessar (1 Ts 5:17). Levados a sair de Constantinopla, os monges estabeleceram o mosteiro em Gormon, na entrada do Mar Negro. Este lugar tornou-se, então, a base do mosteiro da ordem de Acoemetae (literalmente, os que não dormem). Alexander morreu neste lugar em 430 dC, mas a influência do Acoemetae continuou. As casas foram divididas em 6 corais rotativas durante o dia, e cada próximo coral aliviava o anterior, assim, criando oração e adoração ininterrupta por vinte e quatro horas do dia.
João, o segundo abade do Acoemetae, fundou outro mosteiro no litoral leste de Bósforo, e referido por muitos, em documentos antigos, como o “grande mosteiro” e a casa mãe do Acoemetae. Durante o Império Bizantino, a biblioteca que se encontrava lá era reconhecida pela grandeza e sem dúvida foi visitado por muitos papas. O terceiro abade estabeleceu um mosteiro na capital sob o cônsul real, Stoudios, quem dedicou o novo mosteiro a João Batista. Stoudion se tornou um renomado centro de ensino e piedade, o mais importante mosteiro em Constantinopla. Stoudion continuou até 1453 quando os Turcos capturaram Constantinopla.
O impacto duradouro de Acoemetae foi a adoração e a contribuição para a liturgia da igreja. Os mosteiros, entre centenas e algumas vezes milhares, eram organizados em grupos nacionais de latinos, gregos, sírios e egípcios, e também em corais. Além de lausperene, que passou para a Igreja Ocidental com o Santo Maurício d’Agaune, eles desenvolveram o Ofício Divino – a efetivação literal do Salmo 119:164, “Sete vezes no dia, eu te louvo pela justiça dos teus juízos.” Isto se tornou parte integrante da regra beneditina das sete horas da oração, a liturgia das horas – Matinas, Laudes, Tércia, Sexta, Noa, Vésperas e Completas.
Agaunum
Por volta de 522, o abade Ambrósio chamou a atenção para um pequeno mosteiro na Suíça. Diz a lenda que por volta de 286, uma legião Tebana, sob o comando de Maurício de Valois foi enviada para reprimir uma rebelião dos gauleses no norte do império.
A caminho para a Gália, os cristãos coptas estavam acampados em Agaunum (atual Suíça), onde eles foram ordenados a sacrificar aos deuses romanos e ao Imperador pedindo por vitória. Maurício e a sua Legião Tebana recusaram. O imperador romano Maximiano ordenou que “dizimasse” a legião de sete mil: morte de um em cada dez homens. Quando Maurício e os seus homens continuaram com a recusa, uma segunda dizimação foi ordenada, seguido por outro e outro. Com o tempo, todos os sete mil cristãos egípcios foram martirizados.
Embora a veracidade da história tenha sido posta em dúvida, a lenda dos mártires em Agaunum se espalhou largamente. Entre 515-521, Sigismundo, Rei da Borgonha, generosamente fundou o mosteiro estabelecido no local do martírio para garantir seu sucesso. Em 522, o abade de Santo Maurício instituiu o lausperene conforme a tradição da Acoemetae. Corais de monges cantavam em rodízios, um coral aliviando o coral anterior, assim, continuando dia e noite. Esta prática continuou até por volta do ano 900, impactando os mosteiros por toda a França e Suíça.
Comgall e Bangor
O Mappa Mundi, o mais célebre de todos os mapas medievais, contém uma referência de um lugar no limite do mundo conhecido: Bangor, Irlanda. Por que este pequeno e distante lugar, atualmente uma cidade costeira adormecida a 24 quilômetros de Belfast, capital da Irlanda do Norte, foi tão importante nos tempos medievais?
São Patrício e Vallis Angelorum (Vale dos Anjos)
O monasticismo na Grã-Bretanha e na Irlanda desenvolveu ao longo de linhas semelhantes às dos Pais do Deserto do Oriente. A mãe de São Patrício era parente próximo de Martinho de Tours, um contemporâneo de Santo António, o pai do monasticismo. Não é nenhuma surpresa que o mesmo tipo de ascetismo, que acompanhou o estilo de vida monástica no Egito, também foi encontrado na Irlanda.
Em 433, bem no momento em que o Império Romano estava começando a ruir, São Patrício retornou à Irlanda (anteriormente foi escravizado na ilha), com visão de pregar a mensagem Cristã para os irlandeses. Outros ascetas o seguiram, Finnian, Brigid, e Ciaran, os quais estabeleceram centros monásticos por toda a ilha. Enquanto que o Cristianismo, em grande parte do império, tinha sido fundado com a supervisão de bispos sobre as cidades e centros urbanos, a Irlanda nunca foi conquistada e não possuía centros urbanos. A queda do império, portanto, teve pouco impacto, tornando-se relativamente fácil para os mosteiros se tornarem o centro de influência na sociedade irlandesa.
De acordo com o monge Anglo-Normando Jocelino do século XII, São Patrício veio para descansar em um vale às margens do Lago Belfast em uma de suas muitas viagens. Neste lugar, ele e os seus companheiros tiveram uma visão celestial. Jocelino afirma: “eles observaram o vale cheio de luz celestial, com uma multidão no céu, eles ouviram, como quem cantavam como vozes de anjos, o salmodia do coro celestial.” O lugar ficou conhecido como “Angelorum Vallis” ou o Vale dos Anjos. O famoso Mosteiro Bangor foi fundado neste mesmo lugar cerca de cem anos mais tarde; a partir deste ponto, a canção do céu alcançara à Europa.
Apresentando Comgall
Fundador de Bangor, Comgall, nasceu no Condado Antrim, Irlanda do Norte, em 517. Originalmente um soldado, logo ele fez os votos monásticos e foi educado na sua nova vida. A próxima citação sobre a vida dele está nos anais irlandeses, como um ermitão no Lago Erne. No entanto, seu governo foi tão severo que sete de seus companheiros monges morreram e ele foi convencido a sair e estabelecer uma casa em Bangor (ou Beannchar, do irlandês Horned Curve, provavelmente em referência à baía), no famoso Vale dos Anjos. Os primeiros anais irlandeses citam o ano de 558 como a data de início de Bangor.
Bangor Mor e a Salmodia Perpétua
Em Bangor, Comgall instituiu uma regra monástica rígida de oração incessante e jejum. Ao invés de afastar as pessoas, esta regra ascética atraiu os milhares. Quando Comgall morreu em 602, os anais relatam que três mil monges o tiveram como referência para receber  orientação. Bangor Mor, chamado de “o Grande Bangor” para distinguir dos seus contemporâneos britânicos, tornou-se a maior escola monástica no Ulster, e um dos três principais luzes do cristianismo céltico. Os outros foram Iona, o grande centro missionário fundado por Colomba, e Bangor no Dee, em Gales, fundado por Dinooth; as antigas Tríades galesas também confirmam as “Harmonias Perpétuas” nesta grande casa.
Ao longo do sexto século, Bangor tornou-se famoso por seu salmodia em coral. “Foi esta música que foi levado ao continente pelos Missionários de Bangor, no século seguinte” (Hamilton, Reitor da Bangor Abbey). Os serviços divinos das sete horas de oração foram realizados ao longo da existência de Bangor. No entanto, os monges foram ainda mais longe e realizaram a prática de lausperene. No século XII, Bernardo de Claraval falou de Comgall e Bangor, afirmando: “a cerimônia de ofícios divinos foi mantida por companhias, que aliviaram um ao outro em sucessão, de forma que nenhum momento do dia ou da noite houvesse um intervalo nas suas devoções.” Este canto contínuo foi antifonal, por natureza, com base no chamado e na resposta rememorativa da visão de São Patrício, mas também praticado pelas casas de São Martinho na Gália. Mais tarde, muitos desses salmos e hinos foram escritos no Antifonário de Bangor, que veio a residir no mosteiro Colombano em Bobbio, Itália.
Os Missionários de Bangor
A vida ascética de oração e jejum chamou a atenção para Bangor. No entanto, com o passar do tempo, Bangor também se tornou um lugar famoso de aprendizagem e educação. Naqueles dias havia um ditado na Europa que dizia, se um homem conhecia grego então era destinado a ser um irlandês, em grande parte devido à influência de Bangor. Mais tarde, o mosteiro tornou-se uma comunidade que enviava missionários. Até hoje, a cidade é base para as sociedades missionárias. Monges de Bangor aparecem em toda a literatura medieval como uma força para o bem.
Em 580, um monge de Bangor, chamado de Mirin, levou o cristianismo a Paisley, onde ele morreu “cheio de milagres e de santidade.” Em 590, o aquecido Colombano, um dos líderes Comgall, foi enviado a partir de Bangor com outros doze irmãos, incluindo Gall, quem plantou mosteiros em toda a Suíça. Na Borgonha, ele estabeleceu uma regra monástica rígida em Luxeuil, que refletia a de Bangor. De lá ele foi para Bobbio na Itália e estabeleceu a casa que se tornou um dos maiores e melhores mosteiros na Europa. Colombano morreu em 615, mas em 700, cem mosteiros adicionais tinham sido plantados por toda a França, Alemanha e Suíça. Outros famosos monges missionários que saíram de Bangor incluem Molua, Findchua e Luanus.
O Fim da Grandeza
A grandeza de Bangor chegou ao fim em 824 com as invasões dos Vikings saqueadores; em apenas uma invasão, 900 monges foram mortos. No século XII, embora houvesse uma ressurreição do fogo do Comgall iniciado por São Malaquias (um grande amigo de Bernardo de Claraval, que escreveu “A Vida de São Malaquias”), infelizmente nunca teve o mesmo impacto que os primórdios tições Celtas, que detiveram a maré das trevas e o colapso social, ao levar Deus a uma geração quebrada.

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