terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fator Melquisedeque - 2 - Pachacuti e Viracocha


Quase todos que têm algum conhecimento sobre os incas sabem que adoravam Inti - o sol.

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As tradições descobertas com eles declaram incisivamente que Pachacuti - o rei tão dedicado à adoração do sol, que reconstruiu o templo de Inti em Cuzco - começou, mais tarde, a questionar as credenciais de seu deus! Philip Ainsworth Means, comentando sobre o descontentamento de Pachacuti com Inti, escreveu: "Ele ressaltou que esse corpo luminoso segue sempre um caminho determinado, realiza tarefas definidas e mantém horas certas como as de um trabalhador". Em outras palavras, se Inti é Deus, por que ele nunca faz algo original? O rei refletiu novamente. Ele notou que "a radiação solar pode ser diminuída por qualquer nuvem que passe". Ou seja, se Inti fosse realmente Deus, nenhuma simples coisa criada teria poder para reduzir a sua luz!"

Pachacuti tropeçou inesperadamente na verdade de que estivera adorando um simples objeto como Criador! Corajosamente, ele avançou para a pergunta inevitável: Se Inti não é o Deus verdadeiro, quem é Ele então?

Onde um inca pagão, afastado dos conhecimentos judaico-cristãos, poderia encontrar a resposta a essa pergunta?

Ela é bastante simples - mediante as antigas tradições latentes em sua própria cultura! A possibilidade desse evento foi prevista pelo apóstolo Paulo, quando escreveu que Theos, no passado, "permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho" (At 14.16-17, grifo acrescentado).

Pachacuti tomou o testemunho que extraíra diretamente da criação e o colocou ao lado da quase extinta memória de sua cultura: Viracocha - o Senhor, o Criador onipotente de todas as coisas.

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O conceito de Viracocha era, portanto, antigüíssimo com toda probabilidade. A adoração de Inti e outros deuses, sob esta perspectiva, não passava de desvios recentes de um sistema de crença original mais puro. Metraux insinua isso quando observa que Viracocha teve representantes proeminentes nas culturas indígenas "desde o Alasca à Terra do Fogo", enquanto a adoração do sol aparece em realtivamente poucas culturas.

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Um Deus que criara todas as coisas, concluiu Pachacuti, merece ser adorado! Ao mesmo tempo, seria incoerente adorar parte de sua criação como se fosse o próprio Deus! Pachacuti chegou a uma firme decisão - essa tolice de adorar Inti como Deus já fora longe demais, pelo menos quanto a ele e seus súditos da classe alta.

Pachacuti entrou em ação. Ele convocou uma reunião dos sacerdotes do sol - um equivalente pagão do Concílio de Nicéia - na bela Coricancha. De fato, um erudito chama esse congresso de Concílio de Coricancha, colocando-o então entre os grandes concílios teológicos da história. Nesse concílio, Pachacuti apresentou suas dúvidas sobre Inti em "três sentenças":

1. Inti não pode ser universal se, ao dar luz a alguns, ele a nega a outros.
2. Ele não pode ser perfeito se jamais consegue ficar à vontade, descansando.
3. Ele não pode ser também todo-poderoso se a menor nuvem consegue encobri-lo.

A seguir, Pachacuti reavivou a memória de seus súditos da classe superior quanto ao onipotente Viracocha, citando seus estupendos atributos. O dr. B. C. Brundage, da Universidade de Oklahoma, nos EUA, resume a descrição de Viracocha, feita por Pachacuti, como segue: "Ele é antigo, remoto, supremo e não-criado. Também não necessita da satisfação vulgar de uma consorte. Ele se manifesta como uma trindade quando assim o deseja,... caso contrário, apenas guerreiros e arcanjos celestiais rodeiam a sua solidão. Ele criou todos os povos pela sua "palavra" (sombras de Heráclito, Platão, Filo e do apóstolo João!), assim como todos os huacas (espíritos). Ele é o Destino do homem, ordenando seus dias e sustentando-o. É, na verdade, o princípio da vida, pois aquece os seres humanos através de seu filho criado, Punchao (o disco do sol, que de alguma forma se distinguia de Inti). É ele quem traz a paz e a ordem. É abençoado em seu próprio ser e tem piedade da miséria humana. Só ele julga e absolve os homens, capacitando-os a combater suas tendências perversas".

Pachacuti ordenou, a seguir, que Inti fosse daí por diante respeitado como apenas um "parente" - uma entidade amiga criada. As orações deveriam ser dirigidas a Viracocha com a mais profunda reverência e humildade.

Como resultado do concílio, Pachacuti compôs hinos reverentes a Viracocha, os quais, por fim, passaram a fazer parte da coleção de Molina (NOTA: sacerdote espanhol Cristobel de Molina, 1575).

Alguns sacerdotes do sol reagiram com "amarga hostilidade". As declarações de Pachacuti golpearam seus interesses como uma granada. Outros consideraram a lógica de Pachacuti irresistível e concordaram em servir Viracocha! Dentre estes, porém, vários se preocupavam com um problema prático: Como reagiriam as massas quando os sacerdotes do sol anunciassem: "Tudo que ensinamos durante os séculos que se passavam estava errado! Inti não é absolutamente Deus! Esses templos imensos que contruíram para eles com tanto esforço - e por sua ordem - são inúteis. Todos os rituais e orações ligados a Inti de nada valem. Precisamos começar, agora, da estaca zero com o Deus verdadeiro - Viracocha!"

Tal notícia não produziria cinismo, incredulidade? Ou até mesmo daria lugar a um levante social?

Pachacuti cedeu à diplomacia política: "Ele ordenou [...] que a adoração de Viracocha ficasse confinada à nobreza, (pois era) [...] sutil e sublime demais para o povo comum (sic!)". (NOTA: sic)

Para sermos justos, precisamos admitir que Pachacuti pode ter esperado que a adoração a Viracocha - tendo o devido tempo para infiltrar-se como fermento - viesse por fim a ser adotada pelas classes mais baixas. Tempo, entretanto, era algo que sua reforma, ainda embrionária, não tinha em grande quantidade. Pachacuti sequer sonhava que a sua decisão de favorecimento de classes seria fatal. Historicamente, as classes são um fenômeno social de curta duração notória; o povo comum é que permanece. Isso aconteceu também com a nobreza inca. Depois de um século da morte de Pachacuti, conquistadores espanhóis cruéis eliminaram a família real e a classe alta. Como as classes baixas haviam sido relegadas à escuridão espiritual, com suas idéias erradas sobre Inti e outros deuses falsos, não puderam dar continuidade à reforma de Pachacuti. Ela morreu ainda incipiente; foi, na verdade, uma mini-reforma.

(RICHARDSON, Don. O fator melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas por todo o mundo. Tradução de Neide Siqueira. 3ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, pp. 39-44).

Um comentário:

  1. O dia que os peruanos tomen ciencia desta realidade o diabo,o paganismo e a idolatria dominante sofreram uma derrota Porem o reino de Deus Precisa ser implantado.
    Jesus cristo é o único rey soberano capaz de dar a verdadeira paz e liberdade ao homen.
    Precissamos de homens de Deus que temham compromisso com o seu reino pra libertar América.

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