quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quando os anjos se alegram por Mário Persona

Quando os anjos se alegram.

Começava o ano de 1978 e eu nem imaginava que uma série de acontecimentos iria em breve mudar completamente minha vida. Eu estava com 23 anos de idade mas nem me passava pela cabeça que aconteceria comigo algo que faz os anjos se alegrarem. Enquanto andava pelos corredores da Faculdade de Arquitetura de Santos, onde estudava, uma nota no quadro de avisos chamou minha atenção: " SE VOCÊ SE INTERESSA POR TRIBOS INDÍGENAS, FALE COMIGO - FERNANDO ". Qualquer assunto relacionado ao homem e à natureza me interessava. Logo eu estava procurando pela pessoa que havia colocado aquele anúncio.

Viagem no Misticismo

Nos últimos anos eu havia mergulhado profundamente em uma viagem em busca de uma razão de viver. Aquela jornada acabou me levando a acreditar que a única solução para minha existência como ser humano estava no auto-conhecimento, na sua evolução espiritual. Minha filosofia era uma mistura de espiritualidade com idéias de uma volta ao campo para viver uma vida simples em comunidades alternativas. Levava uma vida voltada para o misticismo. Praticando alimentação natural e medicina alternativa oriental, minha mente era um verdadeiro caldeirão de conhecimentos espiritualistas. Nela eu tentava conciliar conceitos e idéias emprestadas do espiritismo, esoterismo, teosofia e Tao Te Ching. Minha biblioteca era meu tesouro: autores como Alan Kardec, Madame Blavatsky, Krishnamurti e Carlos Castañeda habitavam nela, lado a lado, como se não discordassem entre si.

Brincando de Monge
O interesse por essas coisas veio aos poucos. Primeiro vieram os livros de Lobsang Rampa, um jornalista britânico que afirmava ser a reencarnação de um Lama tibetano. Suas idéias acerca do poder da mente, percepção extrasensorial e viagem astral impregnaram de tal modo meus pensamentos que acabei me tornando um leitor assíduo de tudo o que se referia ao ocultismo, magia e parapsicologia. Me envolvi com experiências com fenômenos paranormais que incluíam telepatia, precognição, psicocinésia e radiestesia, e acreditava poder medir a aura de meus amigos com um instrumento que construí.

Todas as formas de religião oriental me atraíam. Por mais de um ano dediquei-me à Seicho-no-ie, absorvendo e acreditando em tudo o que o mestre Masaharu Taniguchi escrevia. Mas na mesma proporção que minha biblioteca crescia, recebendo dúzias de novos volumes sobre pensamento positivo, meditação transcedental, seres elementais (fadas, gnomos e duendes), yoga, astrologia, ufologia, e parapsicologia, aumentavam minhas dúvidas e falta de paz. Eu conseguia disfarçar meu crescente sentimento de inquietude adotando uma postura de sábio e cultivando uma imagem de homem santo e espiritual. Tentando me separar do mundo material, queria que as pessoas pudessem ver em mim um tipo moderno de monge.

Ghandi, Meu Ídolo
Krishna, no Mahabharata, era uma de minhas leituras prediletas. Aliás, o Bahagavad Gita era meu livro de cabeceira para minhas leituras noturnas. Gandhi passou a ser um exemplo para mim. Logo adotei um estilo de vestir, vestindo camisas feitas com saco de algodão que, junto com calças desbotadas e sandálias, me emprestavam uma aparência de humildade e de desprendimento das coisas materiais. Uma bolsa de lona, onde costumava ter sempre pão de trigo integral, completava a imagem de homem espiritual que eu queria transmitir às pessoas. Comia apenas alimentos naturais e era um fanático, adepto da Macrobiótica, uma dieta baseada no Tao. Não comia carne, açúcar e qualquer alimento industrializado. Não comia qualquer coisa considerada demasiadamente Ying pela Macrobiótica. Iria atrapalhar o equilíbrio Ying Yang que meu corpo precisava ter para entrar em harmonia com o Universo. Passei a ter em Georges Osawa e Tomio Kikuchi meus mestres dietéticos. Meu peso caiu de 75 kg para 56 kg, o que, para alguém de 1,84 de altura, concedia a magreza e palidez necessária a um candidato ao Nirvana. Meu esqueleto à mostra já começava a atrair olhares curiosos quando eu caminhava pela praia.

Todo Monge Precisa de Patrocínio
Mas toda aquela aparência de despojamento e espiritualidade só era possível porque meu pai me dava todo o dinheiro que eu precisava para morar sozinho e com todo o conforto em um apartamento no Guarujá. Meu apartamento ficava a poucos metros de uma das mais famosas praias do Brasil. Ele também providenciava o suficiente para que eu estudasse em uma faculdade particular das mais caras. Os mesmos recursos permitiam que eu me alimentasse regularmente em restaurantes Macrobióticos. Estes alimentos costumavam ser normalmente mais caros que as refeições em restaurantes comuns. Eu podia ter a aparência de um monge asceta, mas meu padrão de vida era de um menino rico. O único conforto que consegui deixar de lado foi meu carro, o qual dei à minha irmã. Passei a andar a pé, de bicicleta ou de ônibus.

Encontrei Alguém que Cria na Bíblia
O meu interesse pela vida natural levou-me a ser atraído pelo anúncio sobre índios que Fernando havia colocado no quadro de avisos da faculdade. Encontrei-me com ele na Biblioteca e logo percebi que o anúncio sobre índios era apenas um chamariz para ele poder entrar em contato com as pessoas. Ele realmente estava em contato com pessoas que viviam em uma tribo na Amazônia, mas eram missionários tentando converter os índios ao cristianismo. Logo ficou claro que Fernando queria fazer o mesmo comigo. Achei o cristianismo que ele professava um absurdo, mas continuei minha amizade com Fernando pois sentia pena dele. Como podia alguém, em pleno século vinte, acreditar na Bíblia com a ingenuidade de uma criança! Ele dizia que eu era um pecador perdido que precisava de um Salvador; que Jesus me amava o suficiente para ter morrido na cruz para pagar meus pecados; que três dias mais tarde Ele ressuscitou de entre os mortos para se tornar um Salvador vivo. Segundo o que Fernando dizia, bastava eu crer em Cristo para ser perdoado de meus pecados e receber a vida eterna.

Eu procurava por todos os meios mostrar a ele que a Bíblia continha muitos erros e que ao longo dos séculos ela tinha sido alterada pelos judeus e pelos católicos. O que eu não dizia era que não sabia ao certo que erros ela continha e onde tinham feitos essas alterações. Se alguém me pedisse, eu teria sido incapaz de mostrar um simples erro ou passagem alterada. Nem me passava pela cabeça que para poder afirmar que algo foi alterado é preciso conhecer como estava no original.

Deus Numa Tigela
Eu procurava explicar ao Fernando que era necessário que o ser humano subisse pela longa escadaria da evolução espiritual para atingir o estado de graça, para chegar ao que ele chamava de Céu. As coisas não eram tão fáceis como ele queria que eu acreditasse. Nessa escalada valia tudo: caridade, reencarnação, sofrimento, despojamento das coisas materiais, purificação do corpo por alimentos saudáveis, e milhões de outras coisas. Tudo dependia só de você e dos seus esforços. Obviamente não disse a ele que era impossível alguém ter a certeza de estar neste ou naquele degrau evolutivo, ou de se ter alcançado algo.

Eu acreditava que apenas alguns grandes mestres tinham alcançado a perfeição, e entre eles eu incluía Jesus, colocando-O no mesmo nível de homens como Sidarta Gautama, ou Buda, Confúcio ou mesmo São Francisco de Assis. Não acreditava que Jesus fosse Deus. O conceito de Deus para mim era mais de uma energia cósmica do que de um Ser Divino. No fundo acreditava que o homem podia atingir a divindade dentro de si mesmo. Mas minhas crenças não traziam paz ao meu coração e nem certeza de ter alcançado coisa alguma. Continuava, porém, a fingir que era feliz e talvez achasse que meu rosto pálido pela falta de proteínas fizesse os outros pensar que eu era um santo de verdade. Minha insistência fez com que Fernando aceitasse ir almoçar comigo na Associação Macrobiótica de Santos. Lá alguém perguntou-lhe o que achava da Macrobiótica, após dar a ele uma longa explicação sobre sua filosofia. "Achei que vocês são extremamente religiosos... e que o deus que vocês adoram é essa tigela de arroz." respondeu Fernando sem hesitar.

Sedento Pela Verdade
Nossas discussões continuaram, mas pouco a pouco alguma coisa começou a mudar dentro de mim. Comecei a prestar mais atenção ao que Fernando dizia. Até procurava provocá-lo com meus argumentos espiritualistas, apenas para ouvir o que ele tinha a dizer sobre a Bíblia e o Senhor Jesus. Aliás, posso confessar com toda a sinceridade que já fazia algum tempo que eu tinha passado a invejar a alegria de um grupo de jovens que, nos Sábados à noite, costumava tomar o mesmo barco que eu tomava para atravessar o canal entre Santos e Guarujá. Eles pareciam sair de uma igreja evangélica das proximidades e quando entravam no barco com suas Bíblias na mão irradiavam uma paz que eu, cada vez mais magro e pálido, não conhecia. Eu não conhecia absolutamente coisa alguma da paz e alegria que eles certamente gozavam. Tudo o que eu podia apresentar era o que vinha de um rosto pálido e único sentimento de leveza que eu experimentava era devido à desnutrição.

Eu Queria Glória Para Mim
Certa noite cheguei ao meu apartamento cansado e desanimado. Apesar de todos os meus esforços de elevação espiritual, eu me sentia na estaca zero; não podia seguir adiante. Cheguei até mesmo a pensar que o suicídio seria uma ótima saída para encontrar descanso. Mas o que certamente me incomodava era o amor de Deus para o qual Fernando continuava tentando chamar minha atenção. Se Cristo havia morrido em meu lugar para pagar pela dívida de pecado que eu tinha com Deus, eu nada precisava fazer senão aceitar o perdão completo que Deus oferecia de graça. Como poderia algum esforço de minha parte ajudar, se a Bíblia dizia claramente que "pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom (dádiva) de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8,9). Aquilo era demais para o meu ego. Devia haver algum mérito para mim, caso contrário eu não iria aceitar a salvação. Não queria dividir com Deus a glória da minha própria salvação. Não queria atribui-la exclusivamente a Ele. Nas trevas onde eu fora ensinado, era preciso eu evoluir espiritualmente, me aperfeiçoar, me esforçar o máximo e até reencarnar algumas centenas de vezes para chegar a Deus. Todavia, bastava uma passagem da Bíblia para destruir toda a minha crença na reencarnação: "Aos homens está ordenado morrerem UMA VEZ, vindo depois disso o juízo" . (Hebreus 9:27).

Desafiando a Deus
Naquela noite me revoltei contra Deus e O desafiei a provar se Ele existia e se realmente era Quem a Bíblia dizia ser. Ao mesmo tempo eu O questionava quanto à razão de minha falta de paz. Eu O desafiava, em voz alta, a me mostrar se Ele sabia as respostas para todas as minhas indagações. Furioso como estava, agarrei uma Bíblia e com todo o desdém de quem não crê, abri-a a esmo. Estas palavras saltaram diante de meus olhos:

"Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?... Onde estavas tu, quando Eu fundava a Terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes?" Enquanto me sentava na cama, devagar, meus olhos continuaram percorrendo os capítulos 38, 39, 40 e 41 do Livro de Jó: "Onde está o caminho da morada da luz?... De certo tu o sabes, porque já então eras nascido, e porque grande é o número dos teus dias!... Sabes tu as ordenanças dos céus?... Porventura contender com o Todo-Poderoso é ensinar? Quem assim agúi a Deus, responda a estas coisas..." Quase podia ver o dedo de Deus esticado diante de meu nariz, me repreendendo por tamanha estupidez de minha parte. Pela primeira vez senti pavor; senti que estava diante de Alguém que era muito maior que eu. Devagar, fechei a Bíblia, enfiei-me debaixo da coberta e tentei fingir que nada tivesse acontecido. Tive medo. Acabava de me encontrar com Deus, mas ainda não conhecia o Seu amor.

Deus Visita Uma Livraria
Algum tempo depois entrei em uma livraria procurando por um livro que acabara de ser publicado. Desde o lançamento de "Eram os Deuses Astronautas?" de Erich Von Daniken eu passara a ter grande interesse em saber se existiam seres extraterrenos e se eles haviam de algum modo interferido na Terra. Lia tudo o que encontrava a respeito e o novo livro daquele autor, cujo nome era "Provas", certamente lançaria alguma nova luz sobre o assunto. Eu não sabia, mas Deus já havia visitado aquela livraria antes de mim e preparado tudo antes de eu chegar. Ao pegar na prateleira o livro que desejava, minha atenção foi despertada para o livro que estava ao seu lado: "A Agonia do Grande Planeta Terra"* , de Hal Lindsay. Acabei comprando ambos, pensando tratar-se do mesmo assunto. Por alguma razão aquele livro, que no Brasil só costumava ser encontrado em livrarias cristãs especializadas, estava na seção de livros sobre OVNIs, ou objetos voadores não identificados (discos voadores).

Se Não Tem Interesse, Não Leia
Comecei a ler "Provas" de Daniken e achei extremamente chato e incoerente. Ele dedicava uma boa parte do livro para provar que a Bíblia estaria errada ou que teria sido adulterada ao longo dos tempos. Nos outros capítulos do mesmo livro ele acabava usando passagens bíblicas para tentar provar suas teorias de visitas de extraterrenos à Terra. Achei melhor colocá-lo de lado e abri "A Agonia do Grande Planeta Terra"* para ler. Em uma das primeiras páginas havia um aviso mais ou menos assim: "Se você não tem interesse nas coisas que, segundo as profecias bíblicas, irão acontecer neste mundo, não leia este livro." Aquilo era o suficiente para despertar minha curiosidade e li o livro de um só fôlego, maravilhado com os detalhes que a Bíblia revelava de tudo o que vai acontecer. Muitas coisas começavam a fazer sentido para mim.

Em Inimizade Contra Deus
Pouco a pouco fui entendendo que eu era um pecador perdido. Com a convicção de que eu estava perdido veio o entendimento de que nada que eu fizesse poderia alterar essa condição. Concluí que era uma questão judicial. Eu era inimigo de Deus e Ele tinha que me condenar por isso. Meu pecado, como o de todo mundo, era ser rebelde e querer viver minha própria vida independente de Deus. Embora não me considerasse perfeito eu ainda era influenciado pelo engano de tentar alcançar a perfeição através do espiritualismo. Não achava que estivesse COMPLETAMENTE perdido. Acreditava que a reencarnação me daria outras chances de evoluir espiritualmente para uma condição mais aceitável a Deus. Achava que por meu esforço contínuo conseguiria diminuir meu carma, ou o juízo pelos meus pecados. Por meus próprios esforços eu poderia reduzir assim o número de vezes que precisaria voltar a esta vida, neste ou noutros planetas, até eventualmente atingir a perfeição. Mas havia algo de egoísta em tudo o que acreditava, tudo estava relacionado comigo. Era sempre "eu", "eu" e "eu". Acreditava que o poder para tudo estava em mim mesmo. Se me esforçasse o suficiente para evoluir espiritualmente isso seria para resolver o meu problema. Se tentava ajudar alguém, era para eliminar parcialmente o meu carma ou minha carga de pecados. Deus era deixado do lado de fora. Nada do que eu fazia tinha como objetivo a Sua glória. Era tudo para a minha própria elevação. Meu ego era meu próprio deus.

Os Anjos se Alegram
Finalmente chegou a noite pela qual os próprios anjos na presença de Deus aguardavam com ansiedade -- a oportunidade para eles poderem festejar. Depois de um dia horrível, de luta comigo mesmo, não conseguia dormir com o fardo que pesava sobre minha alma. Eu tinha chegado ao limite; chegava ao final de mim mesmo. Após mais de cinco anos de envolvimento com o espiritualismo, não tinha evoluído um centímetro sequer rumo à perfeição. Pelo contrário, uma consciência atribulada era tudo o que tinha conseguido com meus esforços.

Chegara a hora de considerar o que Deus oferecia. Ele tinha enviado o Seu Filho, o Senhor Jesus, para morrer por pecadores como eu. Haveria amor maior que este? Haveria alguém mais apto para resolver minha questão do que o próprio Deus? O amor de Deus enviou Seu Filho como Salvador a este mundo para que eu pudesse ter vida e vida eterna. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Eu não precisava me aperfeiçoar; eu não precisava reencarnar; eu não precisava me esforçar para merecer a salvação perfeita proveniente de Deus. Todos aqueles anos que passei no espiritualismo haviam demonstrado ser isso impossível. Deus me oferecia de graça aquilo que fora tão arduamente conquistado pela morte de Cristo na cruz e pelo poder da Sua ressurreição de entre os mortos.

Eram quase duas horas da madrugada quando ajoelhei-me ao lado da cama e, em prantos, fiz uma oração até uma criança poderia fazer: "Senhor Jesus... até aqui fui eu quem tentou dirigir minha própria vida, e nada consegui... por favor, Senhor, toma conta de mim... salva-me, Senhor!" Então me rendi nos braços do Salvador. Eu sabia que era aceito. Começava para mim uma nova vida em Cristo Jesus. Por causa de meu arrependimento havia alegria no Céu na presença dos anjos.

"Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo... Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende!" (2 Coríntios 5:17; Lucas 15:10).

A continuação desta história você encontra em meu blog "O que respondi".

Mario Persona


Quer saber quem é Mario Persona, acesse:
http://www.blogger.com/profile/04653491946737163988Quando

garanto que vale a pena.

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