sábado, 23 de julho de 2016

A disposição de perdoar por Brennan Manning



Paulo escreveu aos romanos: "Ele nos amou enquanto éramos ainda seus inimigos". Este é o inequívoco sinal do discípulo que de fato experimentou o perdão de Jesus: a habilidade de perdoar seus inimigos. Jesus diz: "Amai, porém, os vossos inimigos e fazei o bem[...] será grande o vosso
galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus" (Lc 6:35).

Permita-me repetir: Jesus Cristo crucificado não é meramente algum exemplo heróico para a Igreja. É o poder e sabedoria vivos de Deus, capacitando-nos a estender a mão de cura a pessoas que nos defraudaram, nos prejudicaram e nos deram as costas. Quando ouvimos a oração de Jesus pelos seus executores: "Pai, perdoa-os pois não sabem o que fazem" (Lc 23:34), ele lentamente transforma nosso coração de pedra em coração de carne. Ao pé da cruz nos reconhecemos como inimigos perdoados de Deus e somos capacitados a estender esse perdão e reconciliação.

O chamado de Jesus ao perdão é endereçado não apenas à esposa cujo marido esqueceu o aniversário de casamento, mas aos pais cujo filho é morto por um motorista bêbado, a vítimas de acusações difamatórias e aos pobres que vivem em cubículos imundos enquanto os ricos passam dirigindo seus carros caríssimos. 

É estendido aos molestados sexualmente e aos cônjuges humilhados pela infidelidade de seus parceiros; aos crentes que têm sido aterrorizados por seus pastores com imagens de um Deus vingativo; à mãe de El Salvador cuja filha lhe foi devolvida morta com a cabeça enfiada em seu útero aberto a facadas; ao casal de velhinhos que perdeu todas as suas economias porque seus banqueiros eram ladrões e jogadores; à mulher cujo esposo alcoólatra dissipou sua herança. E estendida aos que são objeto de ridículo, de discriminação e de preconceito.

Retorcendo-se em agonia na cruz, Jesus diz: "Eu conheço cada momento de pecado, egocentrismo, desonestidade e amor degradado que tem desfigurado sua vida, e eu não o julgo indigno de compaixão, perdão e salvação. Agora, seja assim com os outros. Não julgue ninguém".

Apenas quando reivindicamos o amor do Cristo crucificado com convicção sentida, esse amor que transcende todos os julgamentos, somos capazes de superar todo medo de julgamento. Enquanto continuarmos a viver como se fôssemos o que fazemos, como se fôssemos o que possuímos, e como se fôssemos o que os outros pensam de nós, permaneceremos repletos de julgamentos, opiniões, avaliações e condenações.

Permaneceremos viciados à necessidade de colocar as pessoas em seus lugares.

A medida, porém, que abraçamos a verdade de que nossa identidade essencial não está enraizada no sucesso de nosso ministério, em nossa popularidade com crianças e pais ou com poder na igreja local, mas no apaixonado, perseverante, infinito — que G. K. Chesterton chama de "furioso" — amor de Deus corporificado em seu Filho crucificado, nessa medida somos capazes de abrir mão da necessidade de julgar amigas, cônjuge, filhos, pastores, gays, heterossexuais, asiáticos e brancos, assim como o cachaceiro da rua marcado pelo pecado. Podemos ser libertos da necessidade de julgar os outros, reivindicando para nós a verdade: "Sou o discípulo que Jesus ama".

Nas palavras de Henri Nouwen: Apenas quando reivindicamos o amor do Cristo crucificado com convicção sentida, esse amor que transcende todos os julgamentos, somos capazes de superar todo medo de julgamento. Quando nos tornarmos completamente libertos da necessidade de julgar os outros, estaremos também completamente libertos do medo de ser julgados[...]

A experiência de não ter de julgar não pode coexistir com o temor de ser julgado, e a experiência do amor não-julgador do Salvador crucificado não pode coexistir com a necessidade de julgar os outros.

É o que Jesus quer dizer ao falar: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7:1). O apóstolo João, o único discípulo do sexo masculino a permanecer ao pé da cruz, afirma: "No amor não existe medo" (1 Jo 4:18). 
 
Se você ainda tem medo do julgamento, vá ajoelhar-se aos pés da cruz e o Messias o libertará.

Retirado livro: A assinatura de Jesus.

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