terça-feira, 26 de julho de 2016

A entrega do coração ao amor arrojado por Brennan Manning



A entrega do coração ao amor arrojado. Este é o carisma demonstrado tão poderosamente por Maria Madalena e pelo apóstolo João. Ao longo de toda a agonia de Jesus, o foco da atenção tanto de Maria quanto de João não foi o sofrimento, mas o Cristo sofredor que "amou-nos e entregou-se a si mesmo por nós" (Ef 5:2). 

Nunca permita que essas palavras sejam interpretadas alegoricamente. O amor de Jesus na cruz foi uma realidade ardente para Maria e João, e a vida de cada um deles é totalmente incompreensível sem ele. Maria teria sido soterrada na história como heroína trágica se não fosse por seu amor imenso, apaixonado e intransigente pela pessoa de Jesus.

João teria desaparecido da memória como discípulo desiludido. Ambos, porém, permaneceram ao lado de Jesus enquanto ele era assassinado do modo mais desumano e brutal.

Jesus disse de Madalena o que não disse a ninguém mais nos evangelhos, embora ele certamente o diga de qualquer pessoa que tenha o espírito de Madalena: "Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou" (Lc 7:47).

Se você falasse a Maria e a João sobre a vida, o ministério, a oração ou o discipulado cristão, deveria necessariamente falar do Jesus pregado à madeira e agora ressurreto em glória, ou então se calar.

Não os aborreça com suas sacadas teológicas. Não os entedie com seus sucessos ministeriais ou seu dom de línguas. Eles têm uma única pergunta: "Você o conhece?".

Jesus disse: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8:32).

Qual é a verdade fundamental que libertou João e Maria? É que Cristo os amou além de qualquer merecimento ou não-merecimento, além de qualquer barreira, limite ou ponto de ruptura. Esse é o maior dos carismas — não apenas a cognição intelectual, mas a consciência experiencial dela —, é a sabedoria de que estou falando, que é mediada pelo espírito do Senhor crucificado.

Como disse Francisco de Sales: "E no Calvário da cruz de Cristo que os santos meditam, contemplam e vêm experimentar o seu Senhor".

No domínio do discipulado cristão, creio que a Igreja nunca tenha tido dois maiores amantes de Jesus Cristo do que Maria Madalena e o apóstolo João. A experiência pessoal do amor de Cristo é o poder e a sabedoria que iluminaram, transformaram e transfiguraram Maria, João e todos os outros amantes extravagantes da história cristã.

A coragem de tomar a cruz, o carisma do perdão e a descoberta da sabedoria são o legado do Senhor para os que adentram profundamente o mistério de seu sofrimento e morte. A palavra profética de Jesus, falada a Marjory Kemp, uma viúva de 34 anos, há quase quatrocentos anos, permanece sempre atual: "Mais agradável para mim do que todas as suas orações, sacrifícios e boas palavras é que você creia que eu a amo".

Neste capítulo concentrei-me no que a morte de Jesus implica para nossa vida. O Crucificado diz: "Tome a sua cruz não anualmente, mas diariamente. Perdoe os que o odeiam, magoam, enganam ou desdenham. Rejeite a sabedoria do mundo que amarra nossa identidade a dinheiro, prazer, poder e às percepções psicológicas das ciências sociais; encontre seu verdadeiro eu na fé e sabedoria de meu servo Paulo: 'Cristo amou-nos e entregou-se a si mesmo por nós' (Ef 5:2)".

Esse poder e essa sabedoria estarão ao alcance de um discípulo comum? Sim, mas apenas se percebermos que aquilo que Jesus nos ordena ele nos capacita a fazer. Podemos viver o estilo de vida crucificado não porque somos super-heróis, mas apenas porque ele vive em nós. "Estou crucificado com Cristo; já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20).

Jesus Cristo pregado na cruz é o poder e a sabedoria de Deus.

Ele também é nosso.

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