quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Aluno, Apóstolo, Amigo - Um novo paradigma para o discipulado de Jesus - parte 3


APÓSTOLOS

... e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. Atos 1:8

No grego a palavra Apostellein ”Apóstolo” significa “aquele que é enviado, mensageiro ou embaixador. Aquele que representa a quem o enviou”. Sendo assim, não abordaremos a interpretação contemporânea para o termo, mas simplesmente o chamado dos discípulos para serem representantes do reino de Deus por todo o mundo.
Os sábios, os doutores daquela época, tinham criado uma série de leis que eles impunham ao povo em nome de Deus. Eles achavam que Deus exigia do povo estas observâncias. Mas a lei do amor, trazida por Jesus, dizia o contrário. O que importava, não é o que se faz para Deus, mas sim o que Deus, no seu grande amor, faz pelas pessoas! O povo entendia a fala de Jesus e ficava alegre. Os sábios achavam que Jesus estava errado. Eles não podiam entender tal ensinamento que modificava o relacionamento do povo com Deus.
Certa vez lhe perguntaram (Lc 10, 25-35): mas quem é o meu próximo? Para ele a resposta foi simples: são os pecadores, os pobres, os simples, os humildes, os marginalizados, os doentes, os encarcerados, as prostitutas e tantos outros. Assim ele os ensinou a exercitar a caridade, a paciência, a misericórdia, o perdão, o amor ao próximo.
Caio Fábio (Araújo, 2012) em seu artigo Jesus Nunca Não Amou, retrata fortemente o que Jesus estava fazendo com seus discípulos que era muito mais do que ensinar teorias, ele estava impregnando neles o seu amor.
Amou os amáveis, os amigos, os discípulos, os pais e irmãos, e todo o povo carente.  Amou as pessoas das Forças de Ocupação Romana, amou autoridades boas, como o Centurião, como o oficial do rei, e como o bom chefe da sinagoga de Cafarnaum, Jairo.  Amou coletores de impostos, meretrizes, pecadores, religiosos sinceros, insinceros, lobos, mercenários, e todos os Herodes, Anás, Caifás, e cia..., bem como amou os religiosos aos quais confrontou; sim, até mesmo aos que chamou de “filhos do diabo”.
 Jesus nunca não amou. Sim, até quando disse “não podes vir”... ou quando disse “quem olha para trás não é digno do reino”... ou ainda quando disse a alguém que para segui-Lo não daria para esperar a morte do pai: “... deixa aos mortos sepultarem os seus mortos”.  Jesus nunca não amou. Mas amar para Ele não era namoro e nem romance; era verdade, compaixão e sinceridade sábia na expressão do amor!  Jesus nunca não amou. Nem quando fez um azorrague e a todos os negociantes do Templo expulsou!  Jesus nunca não amou. Nem quando Judas o traiu. Sim, amou antes, durante e depois...  Jesus nunca não amou. Nem quando era o Cordeiro de tudo o que ainda não era... Posto que antes de haver [...] Ele já se dera em amor por tudo o que seria!  Jesus nunca não amou e nunca não amará. Nem quando o mundo conhecer a Ira do Cordeiro. Sim, alguém pensa que a Ira de Deus é ódio? A Ira de Deus é amor em estado de fogo purificador.  Jesus nunca não me amou. Nem nos piores ou mais escuros dos dias e horas de agonia. Ele sempre está comigo. Ele nunca não me amará.
 Ah, como amo a santidade livre desse amor incomunicável de Deus, e que transcende a tudo o que compreendemos como amor.

O discipulado de Jesus não enfatiza somente o fazer, mas ensinava com que coração eles deveriam fazer. Ele estava ali semeando a motivação que os levaria a entregar tudo, por amor, até suas próprias vidas.
Dali a pouco Jesus não estaria mais presente, e teriam todas essas experiências e ensinamentos ativados e relembrados depois da descida do Espírito Santo.
Jesus veio para concretizar o sonho de Deus em ter um reino sacerdotal. Enquanto no livro de Êxodo o verbo indica futuro: SERÃO, na primeira carta de Pedro vemos o propósito cumprido: Mas vocês SÃO.

E serão um reino de sacerdotes de Deus, serão uma nação santa. Êxodo 19:6 (N.V.I.)

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9 (N.V.I.)

O Sacerdócio de todos os crentes

Quando ANSTEY (1993, p.100) fala da diferença entre sacerdócio e dom, ele define claramente a inter-relação entre o sacerdócio exercido por cada crente no seu relacionamento com Deus, com a atuação do discípulo neste mundo como embaixador do Reino de Deus:

É importante entender a diferença entre sacerdócio e dom. São duas esferas de atuação distintas na casa de Deus. Um sacerdote vai a Deus em nome do povo; uma pessoa que exercita seu dom no ministério vai ao povo em nome de Deus.

Ir ao povo em Nome de Deus é um dos objetivos do discipulado e isso só ocorre quando levamos a evidência de que temos autoridade para falar em nome deste reino.
Um dos pilares da reforma de Lutero é a doutrina conhecida como “sacerdócio de todos os crentes”. Baseando-se em 1 Pedro 2.9, e contrapondo-se ao sistema clerical e hierárquico da Igreja Católica, Lutero defendia a liberdade de todos os cristãos exercerem o sacerdócio, ou seja, de estarem diante do trono de Deus, pelo sangue de Jesus, sem necessidade de mediadores.
Pelo batismo, ele ensinou, os cristãos se tornam povo de Deus, irmãos de Cristo, consagrados junto com ele como sacerdotes. Usando João 10, mostrava que as ovelhas conhecem a voz do Bom Pastor e não seguem o estranho. Dessa forma, os membros leigos da igreja tinham o direito de julgar doutrina, pois “as ovelhas terão de discernir se estão ouvindo a voz de Cristo ou uma voz estranha”. Isso não era apenas um privilégio da congregação, mas um dever solene.
Lutero chegou a afirmar que os cristãos não só eram todos sacerdotes, mas ministros da Palavra, com o sagrado dever de ensiná-la. Abolindo, assim, praticamente toda distinção entre clérigo e leigo na igreja, ele realmente tentou implantar essa doutrina na prática.
Derek PRINCE (1976) vai mais além e relaciona o sacerdócio dos crentes com a Ordem de Melquisedeque, um rei que é também sacerdote, o que era proibido na velha aliança. Em Israel os dois ofícios foram separados, mas com Jesus é restaurado o desejo de Deus, de ter um rei que governe segundo a Sua vontade.

Cristo veio estabelecer o seu reino na terra. Ele veio se tornar rei. Mas nós precisamos de uma revelação de como este reino foi estabelecido. Este não é um reino natural, nem foi estabelecido de acordo com os métodos humanos. Pois Cristo não veio como rei. Ele veio como sacerdote. 
O reino de Cristo é estabelecido através do sacerdócio. Não através do sacerdócio levítico, imperfeito e limitado, incapaz de formar o reino de sacerdotes que Deus procurava. O reino de Cristo é estabelecido através do sacerdócio de Melquisedeque.

O entendimento de Pedro Arruda (ARRUDA 2016, p.38 e 29) sobre o exercício deste sacerdócio, que só existe pelo relacionamento com Jesus, crava o conceito de que não levamos somente uma mensagem, porque se assim fosse, o Evangelho seria mais uma teoria, mais um conjunto de normas e práticas religiosas. Ele diz:

... não somos apenas portadores de uma mensagem, trazemos em nossa companhia alguém – um Amigo para ser apresentado às pessoas. Enquanto uma mensagem precisa ser sistematizada a fim de ser compreendida, a pessoa apresentada se explica por si só.

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